Cristina Hare e a “Teoria da Conspiração”

A quebradeira Cristina Hare em foto de Noelia Albuqueque, sobre o mapa construído pelos quebradeiros, localizando pontos culturais na cidade do Rio de Janeiro - uma das ações do projeto Cartografia Afetiva-Garrafas ao Mar

Por Cristina Hare, retirado do livro “Considerações Finais”

Ele ligou. Tudo o que ele queria era chamá-la pra fazer algo juntos. Um lanche, um cinema sem pretensão e coisas pretensiosas, talvez até rolassem depois.

Ela, ao ver o número dele no visor do celular, ansiou por um convite, pra um lanche, um cinema sem pretensão e coisas pretensiosas, talvez até rolassem depois.

Ela atendeu com um “oi” animado.

Ele, tudo o que ele conseguiu, foi responder ao “oi” com a mesma animação e falar banalidades. Inventou uma desculpa por ter ligado e não a convidou pra coisa nenhuma.

Terminou a ligação com um “qualquer dia vamos marcar qualquer coisa” e desligou, para desespero de ambos.

Ela achou que tinha dado as dicas quando comentou que havia uma exposição assim-assim no MAM e que não tinha assistido alguns dos filmes indicados ao Oscar.

Ele achou que ela era intelectual demais, bonita demais, exigente demais, pra querer a companhia dele.

Ela, que já tinha vasculhado fotos dele no Face, onde encontrou uma dezena de meninas lindas, babando por ele, não se sentiu à altura. Provavelmente, ele ligou só por ligar, não tem interesse em mim. Foi assim que ela pensou.

Ele, achando que não tinha nenhuma chance, ligou a TV e foi assistir a um documentário sobre a Teoria da Conspiração.

Ela, rodou pelos canais e parou pra assistir o mesmo documentário.

Cada um no seu sofá,

cada um no seu cada um,

sem saber que a tal teoria não diz

que o tempo todo conspiramos contra nós mesmos.