A Fabulista das Quebradas – uma crônica quebradeira

A Fabulista das Quebradas

Em:

Memórias fotográficas

Ainda nem tinha amanhecido e eu já preparava meu café pra pegar o primeiro ônibus pra Central do Brasil.

Assim como eu, várias pessoas acordam essa hora, ou mais cedo.

Deus ajuda quem cedo madruga, diz o dito popular. O zum-zum-zum na Central já fazia grande quando cheguei. Muita gente, de todos os lugares, se esbarra na chegada e na partida dos trens da Central do Brasil. Poucas se encontram.

Resolvi pedir uma média no Reizinho Lanches. Entre um gole de café e uma mordida do meu pão com pouca manteiga e bem moreninho, me dediquei ao exercício da observação do cenário mais incrível de um retrato da população dessa cidade: o povo maravilhoso do Rio de Janeiro.

São pessoas de todas as cores e lugares, gente humilde e gente “doutor”. Uma mulher, com um vestido verde amarrotado, carrega sua sacola e a si mesma. O casal que chegou junto na Central do Brasil se despede sem beijo.

De repente percebi que não tinha visto uma pessoa sequer, naquele vaivém, usando “o manto sagrado rubro-negro”. Tinha ido dormir muito cedo e não vi o jogo Leon x Flamengo, pela Copa das Libertadores das Américas.

Pedi outro café e saí da Central pra ver se encontrava alguma notícia de jornal. Encontrei um senhorzinho marreteiro que estava vendendo meia dúzia de jornal popular carioca, ali mesmo no chão. Li a manchete, e foi então que acordei. Dizia assim:

Gosto muito de você Leonzinho!

O Flamengo estava fora da Copa da Libertadores!

Pensei alto e o marreteiro me deu trela:

– Que nação é essa, me diga meu Reizinho, que só veste o manto sagrado no dia seguinte do jogo quando ganha?

Nenhum chorão ou dez revoltados que fossem ali na Central do Brasil, onde todas as nações se esbarram; não ver um vestido a caráter da nação rubro-negra foi revelador pra mim! Sutilezas da rua.

Na dor e ou na delícia de perder ou ganhar uma partida tem que vestir a camisa do time, ora bolas. Ser da Nação, seja qual for, tem que ser pro que der e vier! Mandamento tático.

Nesse caso é reconhecer o imperfeito: Ser Flamenguista.

Devolvi o jornal pro marreteiro.

Maria

que é di Andrea

de uma nota só.