Felipe Araujo, um poeta de rua!

Filho de mãe preta e de pai branco. Mestiço, por consequência. Admirador da cultura popular. Escreve poesia desde 2004, mas passou a vender seus poemas em 2006. Elegeu as ruas como o local onde se daria o contato com seus leitores, por entender que ser esta a forma mais eficaz. Trabalha com oficinas de criação literária e produção de FanZine, e faz Licenciatura em Filosofia.

UQ – Quando surgiu seu interesse por poesia?
O interesse pela leitura de poesia começa as onze anos (no 6°ano) , por mera coincidência: achar um livro de poesia e estar apaixonado pela Ingrid (do 9°ano). O interesse pela escrita de poesia surge aos dezessete, quando a necessidade de “gritar” era grande, e encontrei na poesia uma forma de dizer as coisas ao mundo. Muito embora, neste época quase nunca mostrava os meus textos.

UQ – Quais são os seus poetas preferidos? Porque?
Belquior. Porque tem poesia real, que fala sobre a vida real, sem medo de aceitá-la como ela é. E porque mesmo com uma voz “desafinada”, tem coragem de falar seus poemas, e isso não os torna pior.

João Cabral de Melo Neto. Porque é nordestino, amava sua terra. E justamente por isso sabia olhar pra ela. E além de olhar com precisão, também a descrevia com precisão e ousadia de alguém que amava a vida, por mais “severina” e “mortal” que ela fosse.

Heyk Pimenta e Giovani Baffo. Dois poetas de rua e articuladores de cultura, cada um a seu modo. Os dois tem meu respeito, pois assim como tantos outros poetas de rua, viveram as dificuldades reais que a vida propõe, e isso serviu como combustível pra continuarem fazendo arte e sobrevivendo. Admiro estes, pois escrevem bem, se desnudam, ao mostrar sua arte pra qualquer um na rua e, diferente da maioria dos poetas, estão vivos, ou seja, posso conversar com eles, falar poesia com eles, viver histórias engraçadas, rir e tudo que se faz ao lado dos amigos.

11935_507518269308248_1214242534_n copyUQ – Que conselho você dá para quem escreve?
Três conselhos:
1- Viva. É a melhor forma de se ter obra-prima pra produzir literatura. E na pior das hipóteses, se um dia deixar de escrever, pelo menos terá vivido.
2- Mostre seus textos, só assim eles poderão ser Arte, e cobre por eles, pois o poeta merece se sustentar por meio de seu trabalho, mas cobre um preço que mesmo os pobres possam pagar.
3- Faça a Revolução (PS.: Esse conselho serve pra quem não escreve também)

UQ – Você ganhou o prêmio da UQ em 2011, com um projeto de oficina de Fanzine. Como foi? Você realizou a oficina?
Foi muito massa. Com o prêmio foi possível realizar algumas oficinas em Escola Municipais, no Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Onde foi trabalhada a criação artística, através do teatro, artes plásticas e literatura. Tratando de temáticas que dialogassem com a realidade e interesse dos jovens. E como produto final, produzíamos um Fanzine coletivo, feito pelos alunos. Cada aluno recebia uma quantidade de exemplares para distribuir, e após um sarau, saíam pela escola apresentando o resultado do trabalho realizado.

UQ – Como é o seu processo criativo enquanto poeta?
O processo ocorre de forma intuitiva. Consiste em usar os elementos da vida cotidiana como dispositivos que ativem a criatividade. Assim, é necessário rejeitar as noções de Genialidade e Inspiração, e aceitar que é a vida real, o principal estímulo pra produção originária artística.
Isso, nos permite afirmar que qualquer um é capaz de criar arte, a arte não é mais objeto exclusivo de uns poucos escolhidos. A dificuldade é justamente essa: falar de algo que todo mundo já falou e viveu, porém de uma forma que poucos falaram (ou ninguém) e de forma profunda; Com isso o que faço na verdade é produzir crônicas, mas com a forma que a linguagem poética oferece. Para tanto, se exige se apropriar da técnica, no caso a escrita/leitura, e quanto mais esta é exercitada, mais se dará a impressão que o texto saiu de forma espontânea, como que natural.

UQ – Atualmente, você está trabalhando em qual projeto?
Tenho me dedicado a estimular outras pessoas a produzirem suas artes, através das Oficinas de Criação Artística e Oficinas de Produção de Fanzines. Além disso continuo divulgando meus poemas, seja vendendo meus Fanzines pessoais, seja divulgando através de meu site (www.poesiaderua.com).

UQ – Quando você pensa na Universidade das Quebradas, o que vem a cabeça?
Pra mim a UQ, é um espaço de troca. Onde se tem a possibilidade de aprender muito, seja através das aulas, seja através do estímulo a pesquisa e, principalmente, porque lá estão os principais agentes culturais da cidade, e essa é a principal troca, as pessoas interessantes que você conhece e seus trabalhos/sonhos fantásticos.

UQ – A UQ mudou alguma coisa na sua vida e no seu processo de criação como artista?
A UQ, foi um grande estímulo à profissionalização do meu trabalho, no que diz respeito a entender melhor como funciona a Produção Cultural. E na minha arte, interferiu de forma positiva na minha formação acadêmica, ampliando meu conhecimento.

 

Por Bárbara Reis – Bolsista PIBEX PACC/UFRJ