Gestão de afetos e afetados

Estive, na manhã da última sexta-feira (28/09/12), no ciclo de Debates Setoriais do Plano Estadual de Cultura (PEC), como parte do evento ‘Conexões Ibram + Rio de Janeiro’. Na ocasião, compuseram a mesa Luis Marcelo Mendes, Helena Uzeda, Clara Paulino, Luiz Vergara (autores dos textos propositivos do PEC), e Lucienne Figueiredo (SEC-RJ) e Juliano Borges (SEC-RJ).

Fiquei muito entusiasmado, especialmente, ao ler o texto “Gestão de afetos”, escrito com maestria por Luis Marcelo Mendes e Luiz Vergara. O fato do argumento, descrito no texto “Gestão de afetos” estar inserido como célula de um debate, cujo objetivo é desenvolver um Plano de mobilização de políticas públicas para a Cultura no âmbito estadual, me pareceu lapidar. No entanto, a explanação da mesa não tardou a frustrar minha excitação intelectual. Todas as questões abordadas nos textos foram discutidas pela mesa, sempre, sob a ótica dos grandes museus. Os autores dos textos citaram exemplos e referências internacionais nas áreas de marketing, dinamização, formação e humanização de museus. Propuseram e exemplificaram ações tipicamente “ecomuseológicas” ou sociais praticadas por alguns grandes museus internacionais, que foram por diversas vezes citados e apontaram que deveríamos caminhar nessa direção, afinal os documentos elaborados são de caráter propositivo. Em suma, a mesa ignorou as ações na área da Museologia Social, através de ecomuseus e museus comunitários existentes no Estado do Rio de Janeiro, pelo menos desde os anos 80, prevalecendo apenas um ponto de vista, os dos museus- templos.

As estratégias e discussões de políticas públicas não devem estar pautadas no pensamento eurocêntrico, que (re)força o senso de uma cultura colonizada. É preciso que o Estado estude, planeje e crie estratégias, cuja espinha dorsal tenha como ponto de partida movimentos e ações endógenas. Sabemos que é caro manter um grande museu, assim como sabemos que esses templos são impositivos e ao mesmo tempo segregados do convívio de grande parte da população local. Não sou contra os museus-templos, precisamos deles. Concordo que as políticas públicas culturais devem caminhar para a inclusão sociocultural nos ditos “grandes” museus, legitimando, no entanto, as ações sociais já existentes e resistentes, especialmente em periferias. As práticas sociais de humanização, “de afetos”, nos museus, não podem passar a “existir” para o Estado somente através das grandes instituições.

Perguntada por mim, sobre o que pensa da necessidade de um museólogo para gerir um museu comunitário ou ecomuseu, a professora da Escola de Museologia da Unirio, Helena Uzeda, que compunha a mesa, respondeu que “a presença de um museólogo é necessária para a manutenção do acervo e que só sabemos da existência dos templos e da cultura Egípcia, porque a mesma foi preservada”.

A questão é que os envolvidos com ecomuseus e museus comunitários não almejam torná-los um templo com acervos milenares, os nossos maiores patrimônios são contemporâneos, finitos, são as pessoas.

Pablo Ramoz