Menino Jesus segundo Alberto Caeiro vulgo Fernando Pessoa

Apesar da minha origem católica, confesso que nunca fui muito fã de ler a bíblia. Até hoje me sinto insultado quando dizem para eu lê-la, pois ali descobriria quem era Deus. Na verdade, Deus chegou a mim através de pessoas iluminadas, que num gesto ou em uma atitude, conseguiram me mostrar quem realmente Ele era.

Na minha concepção, as religiões servem para unir povos, para aceitar as pessoas do jeito que são, para incluir, para não julgar. Às vezes, dentro da igreja, encontrava mais o diabo nas pessoas do que Deus. Confesso que essa foi uma das razões por que me afastei. Hoje me sinto feliz por não ter religião. De buscar Deus em minhas atitudes. De temê-Lo e saber que está presente em meus semelhantes. De entender que Jesus e Deus são um só. De saber que Ele me ronda. Dele me dar forças para não perder a fé de que um dia tudo melhorará e que as explicações para o inexplicável um dia serão explicadas.

Enfim, vim aqui só pra dizer que encontrei uma explicação plausível para o que tenho de Deus/Jesus em mim. Que mais uma vez, não veio pela bíblia, mas de um poema de um dos heterônimos de Fernando Pessoa, “Alberto Caeiro”. Segundo Caeiro, sua versão para o menino Jesus é tão importante “quanto a que os filósofos pensam e tudo quanto as religiões ensinam.” Isso é Deus pra mim.

“(…)

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

(…)

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que  eu sei com toda ceteza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

(…)

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.

(…)

Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há-de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?”

 

Texto e imagem de Guilherme Junior , quebradeiro da 4a edição