Poesia e arte nas mãos: Mana Bernardes

Na última terça-feira, a UQ recebeu Mana Bernardes que trouxe beleza, criatividade e poesia. Quebradeira por natureza, a designer e poeta Mana Bernardes compartilhou com os presentes inspiração, arte e consciência social. Filha da querida quebradeira Rute Casoy, Mana falou sobre sua trajetória de vida, sua carreira e como a poesia toma conta do espaço que a cerca, de papéis a paredes.

 Artista e designer fala sobre seu trabalho com jóias e poesias caligráficas

Criadora de jóias, poemas e exposições, a convidada se dedica inteiramente à produção material e conceitual de cada uma de suas obras. Segundo ela, o mundo não precisa de mais objetos, mas de objetos que tenham uma história para contar. Por isso, Mana representa seu trabalho como designer de jóias com a frase: “o poder da transformação é a jóia de ser humano”.

A ideia nasceu de uma pesquisa feita pela artista a partir de um livro da própria mãe sobre cultura indígena, no qual era explicada a tradição dos membros das tribos brasileiras de se enfeitarem de maneira diferente para cada ocasião. Para os indígenas, a caça, a dança, os ritos e as etapas da vida exigem um adorno especial para o corpo, porque o ser humano é o enfeite do mundo.

Foi também da cultura indígena que surgiu uma das características mais peculiares do trabalho com jóias feito pela designer: o uso de materiais que compõem o seu entorno. Ainda criança, a artista passou alguns dias com o pai numa aldeia pataxó e observou que os enfeites usados pelos índios eram confeccionados a partir de sementes, penas, grãos, madeira e outros elementos oriundos da própria região em que residiam.

Desde então, os restos de plástico, arame, papel, nylon, tecido e o que pudesse encontrar em casa ou com vizinhos se tornaram a matéria-prima das obras de Mana Bernardes. De acordo com ela, além de tornar o trabalho mais prático, esse trabalho também une artista e comunidade, já que comerciantes e moradores próximos podem ser uma preciosa fonte de inspiração e fornecimento de materiais.

E a poesia também embala a vida de Mana desde a infância. Acostumada a produzir poemas secretamente desde muito cedo, a artista esperou anos para que estivesse pronta para divulgar os mais de 200 textos que escreveu ao longo de sua adolescência e juventude. Ainda muito jovem, a escritora revelou que possui diversas caixas com manuscritos de suas poesias, que ela faz questão de escrever a mão.

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A paixão pela escrita artesanal, de próprio punho, se tornou uma marca das obras literárias da escritora. Das cartas e bilhetes que sempre recebeu da mãe, surgiu a inspiração para a criação de uma caligrafia própria e da certeza de que a mão é uma extensão essencial da mente. Por isso, para ela, não existe hora e nem lugar para se criar um poema. Seja em casa, na rua ou durante a noite, a qualquer momento pode vir o sopro de um texto que “baixa”, como a própria Mana diz, de uma vez só.

Assim como faz com suas jóias, na poesia a artista usa o que estiver por perto para registrar seus versos. Papel de pão, cadernos antigos, mesas e paredes. Nada atrapalha e tudo é possível de ser usado.

A expressão manual e a letra única transformam os textos de Mana em poemas caligráficos, que só fazem sentido se lidos da maneira como foram originalmente escritos. A forma da letra de uma pessoa diz muito sobre a personalidade, o sentimento e momento da vida em que ela está ao redigir suas palavras. Uma sensibilidade que parece sair do papel direto para a consciência de quem lê, superando de todas as maneiras a distância que as letras mecânicas de um computador transpassam.

Conteúdo e forma andam unidos. Mão e pensamento se completam.

Conheça melhor o trabalho da artista no site http://manabernardes.com/

Por Júlia de Marins – Bolsista PIBEX/ECO – 9 de maio de 2013

Fotos: Jussara Santos e Sandra Lima