[polo] Mitologia Yorubá : Somos mais africanos do que pensamos

Renato Noguera, ao tratar da Mitologia Yorubá e as suas relações de poder e saber entre os gêneros feminino e masculino a partir dos mitos Yorubá, mostrou a importância da cultura africana para a brasileira e o quanto a desconhecemos.

O povo nagô, cuja influencia na cultura brasileira é intensa, devido à sua presença em Salvador, inclusive nas tranças, é um povo Yorubá. Um pequeno exemplo de como somos mais africanos do que pensamos, já que as tranças fazem a cabeça de muitos que não sabem disso.

A aula começou com a apresentação do conceito de Afrodiáspora que se divide em etnocídio (desmantelamento do povo no sentido territorial e político ao ser retirado das suas cidades) e epistemicídio (desqualificação do povo como produtor de sabedoria, conhecimento e criatividade), que leva ao zoomorfismo (tratamento social inferior reduzindo os indivíduos a objetos e os tratando como animais, nas localidades para onde os negros eram levados como escravos).

Ao tratar das tradições, Renato, apresentou o termo Oralitura: conjunto de conhecimento e informações aprendidos na oralidade, não menos importantes que a literatura escrita, pois ambas fazem a transmissão de conhecimento e da cultura do povo para os mais jovens. Em algumas sociedades africanas, como a Yorubá, o envelhecimento é comemorado pela oportunidade de passar o conhecimento e se aproximar da sabedoria. Nelas, a comunidade é formada pelos vivos, os ancestrais e os que ainda não nasceram, o que leva aos representantes a levarem em conta a sabedoria e anseios dos ancestrais, os presentes e os que ainda não nasceram, numa perspectiva ampla.

Em seguida, Renato apresentou alguns dos 410 orixás destacados por ele: Oxum, Orunmilá, Exu, Iansã, Xangô e Oba e contou vários “Ìtan”. Versos, que contam a história dos orixás em vários momentos da vida, para de forma geral e sucinta, falar sobre a “guerra dos sexos”: enquanto as mulheres tem o dom da vida, seria muito perigoso aos homens se elas também detivessem o conhecimento e o poder; daí o estímulo à vaidade e à competição feminina, como no caso do casamento de Xangô com Oba, Iansã e Oxum, articulado por Orunmilá, Exu e Xangô, para desarticular a confraria criada por elas. Outro destaque é a interação dos Orixás, deuses, com os mortais. Xangô por exemplo era um conquistador tanto de deusas quanto de mortais.

Na segunda parte, Beá Meira apresentou a Arte da Região do Rio Niger e destacou a proporção da cabeça nas esculturas africanas: eram maior que o corpo para retratar toda a vida dos obás (reis), venerados em altares familiares como forma de manter a memória da família e de homenageá-lo, corroborando as informações da aula anterior sobre a sabedoria dos mais velhos e o respeito dedicado a eles.

 

Beá destacou a tridimensionalidade como traço da arte africana, presente na escultura, na modelagem e na construção. Também ressaltou como o povo africano é criativo, múltiplo e diverso, produzindo objetos sempre inéditos e diferenciados entre si.

Os Quebradeiros interagiram o tempo todo com os professores, como se estivessem se sentindo representados de alguma forma nas palavras de Renato e Beá. A mitologia Yorubá pode nos fazer pensar melhor o que e quem somos, dando muito axé (força, energia) para todos fazermos isso.

Texto: Joana D’arc Liberato

Foto “Yoruba Bowl” por liquidsunshine49 – CC BY-NC-SA 2.0