Pós-aula – 2° Território das Quebradas

Mônica Rocha – Trajetória de mestre CDD

“Eu disse meu senhor que eu vinha, na sua casa minha meu senhor eu vinha”.

Como falar de uma oralidade pouco estudada? Esse é um dos questionamentos trazidos pela Quebradeira Mônica Rocha, ao falar sobre o tema: “Trajetória de mestre CDD”.

Mônica começa sua fala associando o trabalho de Evandro Afonso Ferreira, autor  mineiro, que trabalha com a sonoridade dos vocábulos, em geral originadas nas línguas tupi ou iorubá, com o resgate das palavras que iniciam este texto.

Apontou que a libertação dos escravos, o bota abaixo para abertura de avenidas e outras ações governamentais vêm deslocando sistematicamente populações de trabalhadores do centro da cidade para a periferia há décadas.  Estas populações, constituídas muitas vezes de  trabalhadores imigrantes do nordeste, se estabeleceram em cortiços e em favelas.

As favelas vão além de lugares para morar. São espaços de formação de identidade e cultura. Uma cultura muitas vezes restrita a essas localidades e que por isso acaba se perdendo dentro do seu próprio meio. É preciso fazer o resgate desta cultura.

Citou como exemplo de locais que não podem ser esquecidos e que precisam ter sua importância no processo histórico da Cidade de Deus (CDD) retomados, a sede do Engenho d’água e o aqueduto do antigo Engenho Novo, hoje Colônia Juliano Moreira.

Aliás, é desta Colônia que um interno ganha o mundo através de sua arte. Arthur Bispo do Rosário (1909 a 1989) que dizia ser um escolhido por Deus para reproduzir o mundo em miniaturas. Sua obra hoje é reconhecida no mundo todo, representa o Brasil em diversas exposições internacionais e é tema da curadoria da 30a Bienal Internacional de São Paulo.

Finalizou falando um pouco do trabalho que é realizado com os idosos, os mestres cancioneiros da Cidade de Deus e os registros que estão sendo feitos das atividades que eles desenvolveram ao longo da vida. Mônica comentou sobre a classificação feita pelo mestre Evandro Afonso desta expressão em palavras sonoras, palavras espaciais e palavras figurativas. Tudo tem uma oralidade, um ritmo que transcende o que estamos habituados. Esses são aspectos que para a Quebradeira precisam ser registrados, pesquisados e trabalhados juntos a nova geração.

Emília Alcoforado – Projeto: Lá em Casa.

Segundo Emília, o projeto “Laencasa”, surge da necessidade de confluência cultural na Zona Oeste. Seu nome é consequência do primeiro questionamento: Onde vamos fazer alguma coisa? Lá em casa!

O Laencasa caracteriza-se pela simplicidade de suas ações. O projeto abre suas portas para que todas as pessoas possam propor alguma coisa. As decisões são tomadas de forma coletiva e não através de uma hierarquia definida. É um espaço para que as pessoas possam apresentar seus trabalhos, sem a necessidade de estar se deslocando para a Zona Sul.

O projeto faz parceria com os grupos CIA 23, Lapa Doida e o Maria Realenga. E para provar que o objetivo é abrir espaço, Emilia convidou Sergio Martins do grupo Maria Realengo para falar aos Quebradeiros.

Sergio nos apresentou a Zé do Rio, personagem de um livro confeccionado artesanalmente de forma coletiva, a partir de caixas de papelão e papel reciclado. Zé do Rio narra a história de um morador de comunidade cheio de idéias e que após ter sua casa inundada pela cheia de um rio, consegue mobilizar os moradores desta localidade para a sua limpeza. O objetivo do livro é proporcionar também uma atividade pedagógica, vinculada a ação do grupo. A partir disso, foi possível a realização de oficinas literárias com crianças e adolescentes, que passaram a experimentar não apenas a criação de suas histórias, mas, também o sabor de confeccionar seu próprio livro.

Marco Andrade – As memórias da Escrita

Professor de História, ator e bom mineiro de Cataguases, Marco Andrade revelou com sensibilidade um fragmento do seu histórico de vida.  Sua relação com a escrita e a leitura  está associada a preocupação com a memória e foi usada como recurso para suprir necessidades e alcançar sonhos inconscientes. Segundo Marco Andrade, Cataguases se transformou num polo de drogas e o teatro teve papel fundamental como ferramenta terapêutica para vários jovens  no caminho do vício. Também ele se diz salvo pela Literatura tendo a oportunidade de desenvolver vários trabalhos em diferentes papéis: seja como ator, palhaço, contador de histórias entre outras habilidades.

Teceu considerações e reflexões a respeito da fábula da memória, o que realmente somos, o que pensamos ser, como construímos nossa história de vida? O que se perde e o que se ganha com as novas ferramentas tecnológicas de comunicação? Que valor podem ter os nossos registros e o processo de seleção da memória com relação à necessidade de saberes?

Preocupado com o afastamento dos jovens das tradições cultural, tais como folia de reis e congadas, procurou estimular o interesse no processo de resgate da memória, dando voz à experiência dos familiares e provocando nas crianças e jovens o orgulho das suas origens.

Projeto Bandeirantes Já – Debora Santos e Edna Bravo

Baseado nos três pilares: Literatura, empreendedorismo e domínio da oralidade, desde setembro de 2009, o projeto Bandeirantes Já vem crescendo e tecendo parcerias  comprometidas com um mundomelhor para as crianças. Em suas atividades buscam o  intercâmbio de ações que visem o desenvolvimento por meio de atividades lúdicas, leitura,  teatro,  brinquedoteca, reforço escolar, teatro e visitação a museus.

Percebemos que a iniciativa oferece aos alunos avançados, a condição de monitores e assim a certeza do engajamento no processo, capacitando novas lideranças.

Foi muito prazeroso acompanhar a exposição da Debora, que fala com clareza e muita propriedade dos objetivos, ações e metas do projeto Bandeirantes Já. Os registros das atividades em vídeo e a organização dos fazeres coletivos nessa árdua caminhada foi apresentada pelas duas idealizadores do projeto. Debora provocou os quebradeiros: Quem se habilita a doar um tempo livre para se tornar voluntário nessa caminhada que busca parcerias para a aquisição de equipamentos e criação de um curso de Idiomas para ampliar os horizontes da meninada?

Sarau

Muitas surpresas marcaram o sarau com as seguintes performances: Marco Andrade apresentou História do monstro Yuanamy, que culminou em aplausos dos presentes, encantados com sua habilidade corporal e talento  indiscutíveis.  Feijah’N fez um improviso de Slam Petry que tirou lágrimas de nosso olhos, Willian Santiago mostrou um vídeo sobre as Amas de Leite e Clarice apresentou uma coreografia envolvida em malha prata. Vejam um pedacinho deste espetáculo registrado pela Jussara Santos em vídeo.

( Por: Raquel Santos e Wanda Lúcia Batista  – Bolsistas PIBEX  UFRJ. Fac. de Medicina – T.O.)