Texto escrito por Pedro Diego Rocha
Analisar e pensar sobre a carreira profissional pode trazer muitos benefícios. E fazer isto em grupo traz a possibilidade de abrir muitas portas, ainda mais dentro do cenário da economia criativa. Os quebradeiros da edição 2016 da UQ estão tendo a oportunidade de saber mais sobre este processo com a professora Sandra Korman Dib, que está ministrando o curso “Pesquisa de Setor”. Os encontros vêm acontecendo na parte da manhã na UQ e neles os alunos aprendem como é indispensável tratar de habilidades, aptidões, competências e experiências de vida para pensar sobre o futuro, como um todo.
Pedagoga, jornalista e psicóloga, Sandra atua na Coordenação de Empreendedorismo da Agência de Inovação da UFRJ, que é parceira da UQ. Ela trabalha com empreendedorismo e inovação desde 1994, atuando como professora desde 1987. Seus estudos em como tornar o estudo profissional em uma ferramenta mais natural transformaram-se no projeto “Planejamento de Vida Profissional”, tema abordado por ela em seu Doutorado em Psicologia Social pela UFRJ, no qual são pensadas a atuação, as condições e posicionamento profissionais de jovens universitários.
O curso “Projeto de vida” que Sandra oferece é o mesmo para os alunos da PUC (onde ela também ministra aulas), empresários residentes da Incubadora de Tecnologia da COPPE/UFRJ e participantes dos cursos de extensão da UFRJ. Os quebradeiros estão aprendendo o mesmo conteúdo que os outros públicos. “É a mesma pesquisa de setor, uma metodologia que se faz de maneira mais orgânica, que não pareça ‘estou preenchendo um formulário. Ai, que coisa chata’. Tem que ser simples, tem que dar para envolver mais pessoas”, explica a especialista.
Em entrevista para a UQ, a professora comenta sobre suas iniciativas, além de realidades de trabalho e de que forma se antecipar às demandas pode fazer toda a diferença para quem procura seu lugar no mercado.
UQ: Qual a importância da pesquisa de setor para alguém que está querendo ver o lado profissional?
Sandra Korman: Como metáfora, que a gente precisa de causa e sonhos, mas tem de ter um continente em que se possa ancorar, um trem de pouso. A pesquisa de setor fala da importância do homem às suas circunstâncias, para empreender e fazer qualquer coisa. A gente vai ter chance de nos identificar aqui e ser um processo de construção compartilhado e que não acaba nunca.
UQ: Qual a importância de se ter um planejamento de vida?
Sandra Korman: É um direcionamento existencial. A partir de uma visão de futuro, seria um lugar onde eu gostaria de estar, habitar e saber que tem correlação com as minhas possibilidades de construir este lugar. A importância de ter um projeto de futuro é ter uma ferramenta de diálogo do sujeito com ele mesmo, dele com o outro, com o passado dele e com o futuro. E essa visão vai inspirar as tuas escolhas. As nossas escolhas no presente às vezes se neutralizam. Hoje tem um número de pessoas muito grande que dizem “tenho dúvida, não sei o que quero, não sei o que gosto”. O planejamento de vida seria a ferramenta mais importante para a gente empreender, mais do que o plano de negócios.
UQ: Como esses dois projetos, a “Pesquisa de Setor” e o “Planejamento de Vida”, se ligam?
Sandra Korman: Faz parte da metodologia de planejamento de vida você pesquisar o seu setor, assim como faz parte do curso de inovação fazer pesquisa de setor. É um levantamento de quem é a tua turma e quem são seus agentes de referência. O empreendedorismo e a economia não gozam da epistemologia de outras ciências, que consideram o que vem antes ou depois. É quase uma questão de paradigma. Você precisa avançar nesta matéria considerando a evolução desse setor, o que está acontecendo para além do meu desejo de realização. E a partir daí, como eu consigo interferir nesta realidade? Eu observo hoje muita gente recorrendo à terapia, quando na realidade a demanda poderia ser endereçada às escolas, à formação. Pesquisa de setor é temática de Ensino Médio. A gente lida na graduação e nos projetos com muito charme.
UQ: Como é participar do projeto da UQ?
Sandra Korman: É um sentimento de dever desejante. Eu acho que é uma experiência de dar corda no relógio do mundo. Você sente que o que se trabalha aqui, a matéria prima, é a construção de opinião, de informação e, em absoluto com construção de imaginários. A gente tem poucos recursos hoje para imaginar pontos que a gente gostaria não só de habitar, mas ajudar a construir. A UQ é uma experiência de desenho de novos mundos, que talvez ainda não existam na representação material na academia. O desejo está muito ligado à tarefa de planejar. O que eu não planejo, eu não desejo. Outra coisa importante da UQ é que a gente tem as condições mais importantes para lidar com a insegurança, medo e a dúvida, que é a oportunidade das pessoas se falarem.
UQ: Como você vê o futuro do mercado da área de inovação criativa com a crise que o país está passando?
Sandra Korman: Uma coisa é um setor que desde cedo aprendeu a trabalhar no campo da ausência de garantias, sabe? Uma metáfora: eu tomei café da manhã sem ter certeza que iria almoçar e se eu almocei sem ter certeza que eu iria jantar e que essas duas refeições iam depender da minha implicação. Por exemplo, tem gente que lida com o futuro de uma maneira cíclica, linear. O futuro é aquilo que se eu ficar parada aqui, ele vem ao meu encontro. Tem alguns setores e pessoas que desde cedo entenderam que o futuro vem na dependência da implicação. Agora, tem uma ignorância coletiva que confunde crise com final. Crise é algo que desestabiliza, mas não é uma permanência, ponto de chegada nem ponto final. E tudo o que me desestabiliza, me move a pensar. E a oportunidade de pensar junto é a proposta de pesquisa de setor neste momento na UQ.