Texto escrito por Pedro Diego Rocha
Nessa terça-feira, 5 de julho, a Universidade das Quebradas se encheu de cultura, de diferentes formas, cores, estilos e talentos, para celebrar uma das obras mais expressivas da literatura brasileira. Foi quando aconteceu a 1ª Feira de Apresentação dos Trabalhos da UQ – “Do Cortiço à Favela”. Os projetos realizados pelos quebradeiros foram baseados em “O Cortiço”, romance naturalista do autor Aluísio Azevedo, publicado em 1890 e utilizado como base do programa da UQ deste ano.
Instalações, performances e exposições estiveram entre as produções dos grupos, que foram analisados por uma banca, composta por gente bem conhecida dos alunos. Integraram este time as coordenadoras gerais da UQ Heloisa Buarque de Hollanda e Numa Ciro; os professores da UFRJ Lilian Fessler Vaz, Ary Pimentel, Eduardo Coelho, Eucanãa Ferraz e Paulo Roberto Tonani; a coordenadora pedagógica na Gerência de Educação do Museu de Arte do Rio – MAR, Gleyce Kelly Heitor (todos esses deram aulas no decorrer do semestre aos alunos) e o quebradeiro da turma de 2010 e Secretário Municipal de Cultura de Queimados, Leandro Santanna.
Ao final das apresentações, a banca recebeu cada grupo para conversar, dar dicas e mostrar, de forma analítica, pontos que podem ser aprimorados nos projetos, que serão posteriormente exibidos no MAR – Museu de Arte do Rio (onde acontecerão as aulas do segundo semestre da UQ em 2016). O objetivo geral dos trabalhos para a feira era, como Heloisa definiu no primeiro encontro com os quebradeiros em abril de 2016, “fazer é uma releitura do livro hoje, com as questões que as periferias, comunidades e favelas apresentam. Um cortiço contemporâneo”.
União fez a força e a diferença
Eles aproveitaram bem a proposta e colocaram em prática o que absorveram ao longo das aulas, reunindo este conhecimento aos seus talentos, não só individuais, mas coletivos. O resultado foram obras que causaram diversas sensações: reflexão, animação, diversão, celebração, entre outras. Apesar de haver uma divisão de grupos, ao fim, a impressão era de que todo o material apresentado era um único, grande e brilhante produto quebradeiro. Todo mundo se ajudando para fazer os trabalhos acontecerem.
O quebradeiro e artista plástico Robson Francisco Martins foi um dos muitos que abraçou a ideia de união cultural. Ele apresentou três trabalhos: “A Mão que Balança o Berço” (uma série de 10 esculturas), “Foram Felizes para Sempre” (uma interferência digital na Lei Áurea) e uma xilogravura sem título. E além disso, ainda atuou como percussionista na performance do grupo “Cortiço: Linguagens e seus personagens” e participou da sonorização do trabalho “Blus da Piedade” da também quebradeira Clarissa Azul.
Para Robson, a ocasião foi rica por permitir entrar em contato com pessoas que têm a capacidade de produzir diversas expressões artísticas. “Com isso, acabamos trocando essas informações. O melhor de tudo é interagir com todos”. Heloisa Buarque de Hollanda destacou a forma como os quebradeiros exploraram os temas em seus trabalhos, achando-os maravilhosos. “É incrível como as pessoas que vêm de outro lugar, olham um livro que é do século XIX, processam e devolvem da forma mais criativa e crítica possível”.
Já Numa contou ter gostado mais da criação em torno dos personagens do livro, do espaço e tempo, que ela define como um tempo plural. “Os séculos XIX, XX E XXI estão encadeados numa noção única que é a experiência humana no urbano, onde há uma desigualdade absurda, tanto no ponto de vista das riquezas quanto das convivências sociais, culturais e de gêneros”. Segundo ela, todas essas diferenças estavam ali, sendo encenadas e apresentadas. “Eles foram além da representação, foram no espaço da criação a partir disso tudo que eles vivenciaram nesse semestre, tanto do livro quanto das aulas dos professores”.
Confira as fotos do evento:
(Crédito de todas as fotos – Denise Kosta)