Pablo Ramoz quebrando na Feirinha da Pavuna

Campanha defende que a Feirinha da Pavuna, que acontece há quase 40 anos, se torne patrimônio imaterial

São duzentos metros onde se encontra de tudo: frutas, sapatos, DVDs, roupas íntimas, celulares, artigos para o lar. E o melhor: gente de todas as idades, gostos, tipos e histórias.  O lugar emblemático do subúrbio carioca chamou a atenção de Pablo Ramoz, que divide a gestão da Arena Jovelina Pérola Negra, na Pavuna, com Anderson Barnabé. Pablo decidiu lançar uma campanha para que a Feirinha da Pavuna seja reconhecida como patrimônio imaterial fluminense e valorizada pela comunidade local.

Morador de Santa Cruz, Pablo se encantou com a riqueza cultural da feirinha desde que foi trabalhar no bairro: “Vim trabalhar na Arena, único equipamento cultural público da Pavuna, e, pesquisando o bairro, identifiquei a feirinha como patrimônio cultural imaterial por ser um modo de vida tradicional da região. Ela foi fundada em 1975 e tem uma história muita rica, e mesmo quem nunca veio já ouviu falar dela”, diz o produtor cultural. A Feirinha funciona de segunda a sábado, de 9h às 19h.

Falar sobre a Feirinha da Pavuna é falar sobre o subúrbio carioca. “Conversando com os feirantes, descobrimos pessoas que estão na terceira geração de Feirinha. É preciso resgatar essa memória”, conta. Sua história é povoada por personagens anônimos, como Dona Glória, 70 anos, uma das fundadoras da feira, ou Jovelina Pérola Negra, que até fez um samba sobre o local: “Ela era frequentadora assídua, compôs uma de suas músicas mais famosas na feirinha, quando presenciou uma briga. Ela fazia feira e depois tomava cerveja em um pé sujo sem nome que existe até hoje lá”.

No clássico Feirinha da Pavuna, Jovelina canta “Houve uma grande confusão/ A Dona cebola que estava envocada/ Ela deu uma tapa no Seu pimentão”.  Os mais de 100 expositores, no entanto, não costumam brigar, e todos apoiam a ideia de resgatar a memória da feira e valorizar a diversidade local. “Essa proposta foi uma coisa maravilhosa que vem ao encontro de uma reivindicação nossa antiga de reconhecimento. Demos o pontapé inicial e estamos dispostos a seguir caminhando nesse sentido, estamos trabalhando para a coisa não ficar só na ideia”, diz Norman Braz Ramos, presidente da Associação de Feirantes da Pavuna.

 

Mobilização comunitária

Pablo destaca a importância dessa valorização para elevar a autoestima dos moradores do bairro, que não costumam perceber a riqueza cultural da região. “A Pavuna é conhecida como um bairro dormitório, estigmatizado. Queremos que o morador se conscientize de que o bairro tem culturas e modos de vida importantes e que podem repercutir pela cidade. Primeiro deve haver essa conscientização, que é o queremos promover, e depois isso pode evoluir para uma patrimonialização formal – isso deve vir da mobilização comunitária”.

“Nosso objetivo é lançar luz sobre esse patrimônio e promover a discussão sobre ele, junto com os feirantes. Queremos ouvi-los, entende-los, conhecer suas demandas. Frequentamos as reuniões periódicas que eles organizam. Eles têm várias dificuldades  – alguns perderam tudo com enchentes – , queremos ajudá-los valorizando esse modo de vida e fazendo com que a cidade os reconheça, reconheça que a Feirinha da Pavuna é tão importante quanto a Feirinha Hippie de Ipanema”, diz Pablo.

Espaço de misturas, a Feirinha da Pavuna têm temperos da periferia carioca, da baixada, da cultura nordestina, afrobrasileira, etc. “É uma região de forte miscigenação, por ser uma passagem de pessoas de várias regiões do estado.  A feirinha fica do lado da estação do metrô e do trem, no entroncamento entre a cidade e a Baixada Fluminense. Cem mil pessoas passam diariamente ali”, diz Pablo.

 

Programação especial na Arena

A Arena Jovelina Pérola Negra, que está completando dois anos, preparou uma programação especial em defesa do reconhecimento da Feirinha da Pavuna. Depois do lançamento da campanha pelo tombamento no dia 26/01, com a participação da cantora Cassiana Belfort, filha de Jovelina, o espaço receberá eventos temáticos também nos dias 16/02 e 15/03. “Queremos trazer a feirinha para dentro da Arena”, diz Pablo. “E também levar a Arena para a rua, que é o que fazemos no Arena Junta: vamos para dentro das comunidades acessar as pessoas que não conhecem a Arena, fazemos shows de rap e samba com artistas locais. Queremos fazer isso na Feirinha da Pavuna também”.

Jovelina Pérola Negra cantou a Feirinha da Pavuna para todo o país.

 

Colaboração de Renata Saavedra para revista da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro

Foto de João Xavi