“A história do racismo no Brasil não é para amadores,
mas para profissionais.”
Joel Rufino dos Santos
A primeira aula do dia 25 foi ministrada pelo doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em história das relações raciais, história e cultura afro-brasileira, história oral, movimentos sociais e formação de professores, atual professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Amilcar Araújo Pereira. Com o foco principal sobre “O movimento negro brasileiro no Brasil republicano”, a aula abordou diferentes temáticas, entre elas estão: a Frente Negra Brasileira, a circulação de referenciais no cenário político do Atlântico Negro e o papel da imprensa negra.
Criada em outubro de 1931 na cidade de São Paulo, a Frente Negra Brasileira (FNB) foi uma das primeiras organizações no século XX a exigir igualdade de direitos e participação dos negros na sociedade brasileira. Sob a liderança de Arlindo Veiga dos Santos, José Correia Leite e outros, a organização desenvolvia diversas atividades de caráter político, cultural e educacional para os seus associados. Realizava palestras, seminários, cursos de alfabetização, oficinas de costura e promovia festivais de música. Os registros históricos apontam um grande número de associados, algumas fontes falam em 40 e outras até 100 mil membros.
Acontecimentos e grupos ao redor do mundo fortaleciam as bases dos movimentos no Brasil. As lutas dos países africanos pela independência e grupos como o Negritude, uma corrente literária que agregou escritores negros francófonos, o panafricanismo, colaboraram para consolidar uma ideologia de valorização da cultura negra em países africanos ou com populações afro-descendentes expressivas, que foram vítimas da opressão colonialista.
O movimento negro americano influenciou e foi influenciado pelo movimento brasileiro. Este movimento que teve origem em circunstâncias diferentes, em um cenário de segregação racial, tinha como pilares instituições como a Igreja Negra, que deu visibilidade a Martin Luther King e Malcom X, a Universidade Negra e a Imprensa Negra. Esta possuía diferentes periódicos, sendo o Chicago Defender o mais representativo. Amilcar apresentou matérias do jornal de circulação nacional retratando as ações da frente brasileira negra, entre outras organizações.
Amilcar mostrou que o movimento negro brasileiro foi bem sucedido, tendo alcançado importantes conquistas, como a criminalização do racismo, o direito às terras dos remanescentes dos quilombos e a lei 10.639, que obrigaria o estudo no ensino básico da história e da cultura dos povos de matrizes africanas no Brasil. Um dos nomes mais notórios desse movimento é do ator, diretor e dramaturgo, fundador do TEN – Teatro Experimental do Negro; Abdias do Nascimento.
Durante o debate o professor comentou que o Brasil foi visto no pós guerra como um exemplo de nação sem racismo. A Unesco chegou a financiar pesquisas no país para comprovar este fato, no entanto elas apontaram o contrário. Apenas em 1995, durante o governo Fernando Henrique o país admitiu a existência de racismo na sociedade. Falou ainda que o movimento negro contemporâneo trás uma visão que associa classe e raça.
Leitura complementar:
ARAÚJO, PEREIRA, Amilcar. O mundo negro (As relações raciais e a constituição do movimento negro contemporâneo). Disponível no link: http://www.historia.uff.br/stricto/td/1254.pdf
GILROY, Paul. Atlântico negro, Editora 34, São Paulo, 1993.
Pesquisem também o poeta pernambucano e negro, Solano Trindade.
Otavio Neto – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ