Habitar um espaço para expor meus sentimentos e desabafos mesmo que infundados é um grandissíssimo privilégio do qual não devo nem quero abrir mão.
Essencialmente este é e será sempre meu débito de gratidão com a UQ, seus idealizadores e coordenadores. Achar um espaço institucional de interlocução já é milagre na bárbara sociedade, dita civilizada, porém feita de ganância que vivemos.
Acredito que aqui minha opinião interessa e ajuda a formar o destino do projeto.
Acredito mesmo.
Acredito que posso aqui ser partícipe. De um projeto oficial, acadêmico, institucional, público, bem careta. Tudo de que sempre fugi a vida inteira. Minha vida clandestina, alternativa, hippie, fugitiva e questionadora de todos os processos e principalmente dos processos de produção.
A UQ me deu finalmente a possibilidade de sair da clandestinidade psíquica na qual me meti, por culpa talvez dos medos formados na tenra idade pela ditadura, pela infelicidade familiar, pelos suicídios e aprisionamentos por mim testemunhados e por ela causados…
Pode parecer pouco. É a primeira vez que me identifico com um projeto público e sinto vontade de ficar.
Por aqui rola uma potência, senão revolucionária, pelo menos embrionária de algo que mesmo ainda em elaboração, ainda sem consistência explícita pulsa bastante. Faz sorrir, aquece o coração, acolhe minhas misérias, sacia minha fome insaciável, atende minhas carências e agrega minha idiossincrasia com naturalidade.
Estou bem enturmada por aqui.
Percebo a insatisfação de alguns com alegria. Sem insatisfação ninguém sai da sua zona de conforto.
Vamos lá. O que nós queremos? É possível tirar uma história única? Não.
Das cerca de 100 pessoas que freqüentam a UQ, como diz o Egeu, existem os mais diferentes anseios, razões, necessidades, disposições, desejos e demandas.
Há quem se sinta cobaia. Pasmo. Se eu me sentisse cobaia em qualquer lugar que fosse sairia correndo.
Temos contradições e inconsistências nas nossas visões dos objetivos do projetos? Mas seria isso um motivo para abandonar o barco ou muito pelo contrário?
Sinceramente, a meu ver, a maior trava no desajuste entre coordenação e alunos vem do susto que a nossa potência reconhecida nos causa. Sim. O pior dos medos é o medo das nossas próprias capacidades reconhecidas e mais que isso, solicitadas.
Não estamos acostumados a este tipo de tratamento.
Em geral não somos vistos, não fazemos sucesso, somos subestimados, quando não humilhados, digo isso por experiência própria como mulher, como mãe de família, como artista e como dona de casa.
Daremos conta de suportar um tratamento que tenta nos colocar em vôo, nos fazendo correr o risco de errar, de desacertar, de expor nossos delírios, nossa loucura, nossas metáforas mais insuspeitas, nosso saber imperfeito?
Vamos lá gente! Vamos sair da velha dicotomia de sempre. Vamos sair da passividade oprimida e vamos mandar mais brasa! Vamos aproveitar os holofotes que jogaram na nossa cara, o lanche que nos alimenta, os microfones, as salas, os projetores, as aulas maravilhosas seguidas de debates incríveis, e principalmente o encontro.
Encontro com E maiúsculo.
Vamos aproveitar a chance que a UQ é. A chance de fazermos dela, para usar um termo fashion, uma plataforma perfeita para os nosso anseios criativos.
O encontro entre os mais diferentes que se pode imaginar, alinhados apenas pelo desejo de cultivar vida, é ou não é?
Vamos trocar nossas experiências, nossos saberes e conhecimentos, vamos nos entrosar.
Que tal produzir mais textos? Um pequeno texto a cada semana?
O que eu percebi hoje? O que eu senti hoje? O que eu aprendi hoje? O que eu agradeço hoje?
Não se iludam crianças, não existe nada além do entrosamento!
Rute Casoy, é Mestre Quebradeira, da 3a turma da UQ.