Olá quebradeiros!
Falar sobre antropologia é sempre instigante, seja pela questão do “selvagem”, seja pela questão dos preconceitos. Isso porque falar em antropologia é falar sobre a CULTURA de uma sociedade. Nessa aula vimos algumas premissas que geram preconceitos, a questão do tempo nas sociedades ocidentais, até o mercado cultural, por exemplo. Leia e não esqueça de fazer seus comentários ao final.
Um abraço,
Felipe Boaventura
Comunicação Universidade das Quebradas.
Por Octávio Neto e Rafaela Nogueira – Bolsistas PIBEX PACC\UFRJ
A aula do dia 2/9/14 teve a professora e antropóloga Ilana Strozenberg para falar sobre “Qual é a função de um antropólogo?” Para tanto, é preciso entender um conceito vital para a Antropologia: cultura. O que é cultura? Na visão da antropologia, cultura é aquilo que dá sentido e identidade aos grupos humanos.
Ilana Strozenberg partiu de três premissas que já foram abolidas dos meios acadêmicos, mas permeiam o senso comum e fomentam preconceitos. São elas: a negação da existência de uma única espécie; baseando-se em aspectos físicos; a responsabilidade do meio ambiente em relação à diferenciação de características dos indivíduos do planeta; e, por último, a unidade de uma mesma humanidade.
Os países colonizados sempre foram alvo dessas premissas geradoras de preconceitos. O Brasil, visto como um país de misturas étnicas, estava fadado ao fracasso diante de uma evolução de progresso social ocidental: “Não vai dar certo”, “Jamais será civilizado” foram afirmações situadas sob o discurso biológico de que aquilo que se mistura não tem pureza, não tem cultura. Na visão do antropólogo Gilberto Freyre, ao contrário, o Brasil estava produzindo uma população adequada e dizia: “O Brasil está produzindo brasileiros.”
Acreditar que os povos classificados como “subdesenvolvidos” não alcançaram a humanidade que os povos civilizados alcançaram, é incidir no preconceito de que há um mesmo modelo de desenvolvimento e progresso para sociedades distintas. Para o colonizador, era necessário fazer acreditar numa evolução indígena, pois, segundo ele, estes povos não foram capazes de evoluir e precisavam de ajuda. A cultura pensada como “primitiva” foi uma das alternativas para a afirmação da colonização como projeção de uma unificação cultural evoluída: A implantação da cultura evoluída — o que necessariamente estabelecia uma relação de poder.
Esse entendimento, segundo a professora, é um entendimento “etnocêntrico”, ou seja, é uma análise a partir da cultura de quem analisa, e não a partir da própria cultura do analisado. Perceber o que essas sociedades “não legítimas” pensam e por que conseguem se manter iguais há milênios, é um dos papéis da antropologia. O tempo em que vivemos é uma produção do nosso pensamento ocidental, a lógica linha temporal entre “atraso” e “vanguarda”. Um período que nunca volta, pois os olhos miram o futuro. Se o nosso tempo é comercializado e contabilizado, e nossa história não se repete, nosso tempo está sempre à frente.
Na aula, foi visto que não existe sociedade sem cultura. O que existe no campo das artes, por exemplo, é um mercado de cultura que diz o que deve ou não ser consumido. Sobretudo, há uma elite que constrói sua hegemonia através da ideia fixa de ter ou não ter cultura. “Você tem cultural?”, problematiza o antropólogo Roberto DaMatta em um trabalho.
Por isso, a antropologia também é uma ciência da escuta, pois ouvir o outro é uma relação experimental. Ouvir o outro é conhecer seu sistema social, e também conhecer melhor o seu próprio sistema. A interpretação desse sujeito e de sua sociedade, então, é uma interpretação dialética, onde se conhece melhor a si mesmo e ao outro, a partir das motivações contidas naquela sociedade, a partir da sua própria cultura. A antropologia tenta entender as diferenças sob a lógica de suas próprias diferenças. Logo, não há um mesmo “desenvolvimento” e “progresso” para diferentes sociedades, nem mesmo uma única “linha do tempo”.
Referências
O pensamento selvagem, de Claude Lévi-Strauss
“Língua”, canção de Caetano Veloso
Antropólogos e autores citados em aula: Roberto DaMatta; Gilberto Freyre; José Carlos Rodrigues; Monteiro Lobato; Jacques Lacan.