Olá Quebradeiro!
Leia a pós-aula do encontro com o professor Andrea Lombardi e Wolfgang Bock no dia 02/09/14 no PACC e a enriqueça com seus comentários.
Abraço,
Felipe Boaventura
Comunicação Universidade das Quebradas
Por Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ
Na segunda confluência entre a Universidade das Quebradas e a Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 04/09/14, tivemos a oportunidade de participar do debate com o professor Andrea Lombardi, do Departamento de Letras Neolatinas, na presença do professor Wolfgang Bock do Departamento de Anglo-Germânicas, cujo tema foi “Discutir o que é a tradução e suas implicações no terreno literário”. A matéria faz parte do projeto Estrada, “Estudos de tradução e adaptação”, cursos de extensão ligados aos problemas da tradução, criado por Lombardi para o programa de pós-graduação. O professor iniciou o encontro com várias sinalizações que envolvem o campo da tradução literária: verificar que a improvisação tem um lado positivo, que o sistema acadêmico é bipolar e que traduzir o outro é perceber que há uma filosofia em cada língua.
Para abordar a temática, Lombardi se embasou nos estudos de Walter Benjamin, filósofo alemão do século XX e crítico de arte. Interrogou os presentes sobre seus conhecimentos a respeito de Benjamin: Por que Benjamin se tornou tão famoso? E mencionou que, em 1968, ele já era conhecido pelos estudantes. Segundo Lombardi, Benjamin representa a união de duas vertentes em conflito, a judaica, da qual o filósofo participa, em parte, e a platônica, em que ele assume o conceito neoplatônico. O que cria em Benjamin um efeito interessante, em razão dos caminhos que percorre o autor para chegar a um projeto textual — diria-se até transdisciplinar. O que faz dele uma espécie de produtor de Écfrase (do grego ekphrasis), ou seja, um narrador que descreve a partir de quadros simbólicos um campo energético problematizador.
Lombardi mostrou algumas das teses desenvolvidas por Benjamin em sua obra Sobre o conceito de história, de 1940. A primeira tese descreve a ideia de progresso ocidental através da análise da imagem de Uber der Schachspieler — “O jogador de xadrez”—, invenção de Wolfgang Von Kemplem, de 1789. Benjamin teoriza, a partir da invenção da máquina de xadrez, a consciência de uma representatividade de progresso cultural tecnicista — “materialismo histórico” — que mantém relações com a teologia para cumprir o sucesso do seu autômato: o boneco que vencia todos os duelos contra os humanos. Até o invento ser descoberto como uma farsa: o funcionamento do autômato dependia das habilidades de um anão escondido na máquina. O que significa dizer que as rédeas do progresso eram regidas por um fundamentalismo teológico. Em sua nona tese, o filósofo descreve o quadro feito em 1920, Angelus novus, de Paul Klee, como a imagem do anjo da história, que é a encarnação na qual se delineia o catastrófico progresso.
Permeando outro ponto, o professor explicou que a cabala consiste numa reflexão judaica profunda sobre o ato de interpretar seus efeitos. Nesse sentido, a cabala pode ser instrumento para análise da poesia contemporânea, ao estudar a relação de dois textos. Isto é, o poeta para ser forte deve seguir os estudos cabalísticos, e seguindo-os, há um esvaziamento do seu precursor, e o poeta contemporâneo pode superar as premissas do mestre. Contudo, podemos compreender o que é tradução quando entendemos que cada homem defende uma interpretação. Benjamin percorreu dois parâmetros temporais antagônicos: o judaico e ocidental, que está de costas para o passado histórico visionando o futuro, o progresso, representado na figura de Paul Klee, que problematiza a visão conceituada de tradução na nossa tradição.
Diante os últimos apontamentos, o professor Wolfgangdestaca que entre os quatros níveis do sistema literário: Literal, Alegórico, Moral e Analógico, onde os dois primeiros são níveis pertencentes ao campo simbólico da interpretação cabalística. Lombardi finaliza a aula considerando que o objetivo do Strada é pensar uma forma atualizada de falar de tradução literária e não apenas do que é interpretação. O que não se pode é perder o momento da ação, da dialética, da saída, para abrir outros tempos e desconstruir a história contada dada como verdade. Benjamin dá as chaves para essa insurgência, que é a desconstrução. Sobretudo, se o leitor não fizer uma interpretação radical, enfrentar o texto, ele perece. Não percebe as armadilhas, as repete e se formata. O tradutor, por exemplo, não pode omitir as interpretações na obra, deve, sim, assumir uma posição. Só dessa maneira o tradutor, o texto e o leitor se articulam numa ação de lampejo literário.
Referências
BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. Magia e técnica, arte e política.
ECO, Umberto. A obra aberta.
BLOOM, Harold. Cabala e crítica.
SCHOLEM, G. Cabala e seu simbolismo.
PLATÃO. Fedro.
HERDER. Imagem e pensamento.