Texto escrito por Pedro Diego Rocha
Na tarde desta quarta-feira, 18 de maio, aconteceu a primeira saída cultural da UQ 2016. Os quebradeiros participaram de um evento do Programa Educativo CAIXA Gente Arteira: um passeio histórico pelo Largo da Carioca, no Centro do Rio e seu entorno. Comandada pelo professor de Geografia da UERJ, João Baptista Ferreira de Mello, a programação faz parte do projeto “Roteiros Geográficos do Rio”, coordenado por ele, e que há 14 anos promove visitas a pontos importantes da história da cidade.
João Baptista começou a “viagem” contando que foi convidado pela coordenadora do Gente Arteira, Kilma Castro – que é quebradeira -, a fazer o roteiro, iniciado à frente do prédio da Caixa Cultural, situado à Avenida Alm. Barroso, número 25. Ele contou que bem ali era a Lagoa de Santo Antônio, que ia do Largo da Carioca até a Cinelândia, mostrando também que nos arredores ficavam o Morro de Santo Antônio e o Morro do Castelo (derrubado entre 1920 e 1922). Segundo João, o material resultante deste último serviu para aterrar o futuro Aeroporto Santos Dumont, o Parque do Flamengo, a Urca e a Lagoa.
Antes de ser derrubado, o Morro do Castelo havia sido depastado para dar passagem à construção do Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional e Supremo Tribunal Federal, que hoje é o Centro Cultural da Justiça Federal. Por conta das Olimpíadas que o Rio sediará no mês de agosto, obras estão acontecendo naqueles locais, trazendo novas mudanças. O professor relatou que no térreo do prédio da Caixa Cultural se concentravam o recebimento de FGTS, PIS e PASEP que depois foi transformado em local para exposições, shows e exibição de filmes.
Caminhando já para o Largo da Carioca, o grupo soube que o local era chamado assim por receber água do Rio Carioca, primeiro fonte de água potável da cidade. Havia uma vala, que servia de escoadouro da lagoa, cujo fim ia dar na Prainha, onde fica hoje a Praça Mauá e a Rua Sacadura Cabral. A Lagoa de Santo Antônio foi aterrada por solicitação dos frades do Convento de Santo Antônio, construído em 1608. Em sua montagem, foram usados óleo de baleia, excrementos e barro, com diversas camadas para assentar os tijolos. Os religiosos ocuparam o local em 7 de fevereiro de 1615. O professor falou também de uma escultura de ferro, chamada “O Pedestre”, que fica quase ao lado do prédio do Caixa e não era conhecida pelos presentes.
O passeio seguiu pela Avenida 13 de Maio, que liga a Carioca à Cinelândia. Ao lado do Theatro Municipal, inaugurado pelo então presidente Nilo Peçanha em 14 de julho de 1909. Notou-se, ao olhar para Praça Floriano Peixoto, na Cinelândia, que a estátua do maestro Antônio Carlos Gomes não estava mais lá e, sim, do lado esquerdo superior do Theatro Municipal, colocada lá na época em que a cineasta Carla Camurati era presidente da casa de espetáculos.
A próxima parada, e que acabou sendo o final do roteiro – devido a uma forte chuva que caiu no começo da noite daquela quarta-feira, foi o Centro Cultural da Justiça Federal. Ali funcionavam o Tribunal de Alçada, Varas da Justiça Federal de 1ª Instância e o Supremo Tribunal Federal. O espaço foi inaugurado em 3 de abril de 1909 e abrigou estas instituições até 1960, quando a capital do Brasil foi transferida do Rio para Brasília. Reaberto como centro cultural em 2001, o prédio tem teatro, cinema, biblioteca e 14 salas de exposições sendo algumas delas visitadas pelos quebradeiros, assim como a antiga Sala de Sessões do Supremo Tribunal Federal, cujo mobiliário, feito em 1920, é mantido até hoje.
Roteiro de passeios faz carioca conhecer sua essência
O professor João Baptista agradeceu a presença de todos e resumiu a importância do projeto “Roteiros Geográficos do Rio”. “Descortinar e mostrar às pessoas como é a geografia, a arquitetura, a religiosidade, as artes, as histórias e os pulsares da nossa São Sebastião do Rio de Janeiro”. O supervisor do projeto Gente Arteira, Humberto Mauro, acompanhou o passeio e explicou que pela Caixa Cultural estar no Largo da Carioca, é extremamente importante que se valorize seu entorno. “Não só a gente conhecer a própria Caixa, mas conhecer muito mais o Rio de Janeiro. Porque só a gente fazendo este tipo de programação é que se pode valorizar”.
Para a quebradeira, escritora e produtora cultural Valeria Milanes, a atividade ajudou a conhecer um pouco mais da história de lugares que as pessoas conhecem muito. “Na realidade, a gente não sabe nada, porque a gente não sabe muita da nossa história. Isso é um dos problemas culturais que precisamos resgatar e ter atenção. Este tipo de passeio faz muito bem esse papel, que é nos mostrar aquilo que a gente passa, olha, mas não vê”. Ela ainda comenta que é disso que não só o carioca, também o brasileiro precisa. “Conhecer-se, ver-se, identificar sua história num registro, numa identidade”.