Texto escrito por Pedro Diego Rocha
2016 está sendo um ano no qual as questões de gêneros têm sido mais discutidas do que nunca, em todos os seus campos. Há muito para ser trabalhado, ainda mais quando se fala em relação à mulher e ao assédio sexual feminino. Para causar reflexão sobre este tema, em especial dentro do ambiente da academia, surgiu a campanha #quebrandooassedio, criada por alunas e pela equipe pedagógica da Universidade das Quebradas. Conversamos com as quebradeiras Elizabeth Martins e Mirila Greicy, que estão envolvidas com o projeto.
Segundo a dupla, a coordenação pedagógica da UQ entrou em contato (primeiro com Elizabeth, que chamou Mirila), comunicando que tinham ocorrido casos de assédio dentro das Quebradas, pedindo, assim, o auxílio delas para pensar uma forma de abordar isto com a turma. Elas então se reuniram, procuraram trabalhos sobre o tema e acharam a matéria “Pesquisa mostra que 86% das mulheres brasileiras sofreram assédio em público” (escrita pela repórter Heloisa Cristaldo e publicada dia 20 de maio no site da Agência Brasil).
A partir deste texto, elas montaram uma dinâmica de grupo com os quebradeiros, no último dia 24 de maio, quando foram utilizados dados alarmantes da reportagem para chamar a atenção e causar incômodo a fim de sensibilizar quem participou. Durante a conversa com os alunos, Elizabeth e Mirila distribuíram papéis com as formas de assédio citadas como as mais comuns. Entre elas estão o assobio, os olhares insistentes, comentários de cunho sexual e xingamentos. Desta forma, os quebradeiros puderam ver, de forma geral, a quantidade de mulheres que passam por este tipo de situações diariamente e o desconforto causado.
Outra atividade da campanha será um mural, exposto em frente ao PACC, na Faculdade de Letras da UFRJ, onde serão apresentadas histórias de assédio, relatadas por quem se sentir à vontade de contá-las naquele espaço. As quebradeiras também criaram uma página no Facebook para divulgar informações e ter esta mesma função: coletar e apresentar mais depoimentos de pessoas, que não precisam necessariamente se identificar. Quem não tiver como ir até o quadro na UFRJ, pode usar o perfil na rede social.
“Mudar primeiro a gente para depois mudar o mundo lá fora”
Elizabeth comenta que, inicialmente, a campanha tem como objetivo “passar para as meninas que elas podem falar do assunto, sim, e elas serão ouvidas e levadas a sério”. De acordo com ela, muitas vezes a pessoa passa por uma situação de assédio e acha que não vale a pena levar à coordenação (no caso da UQ) ou comentar com alguém. Para a quebradeira, todos juntos precisam se mobilizar e começar a fazer ações, nem que elas sejam individuais, para poder amenizar estas situações. “Primeiramente no nosso local, dentro da UFRJ, da UQ e depois levar isto para fora. Mudar primeiro a gente para depois mudar o mundo lá fora”.
Mirila explica que estes esforços alertam em relação a quais as formas de assédio. “Não é só quando tem sangue em jogo, o corpo roxo, mutilado. A gente tratou de chamar a atenção para olhadas, assobios na rua, qualquer coisa que está invadindo sua privacidade, sua condição de ser humano, até uma coisa mais violenta. Infelizmente, uma semana depois do que a gente fez, veio à tona o caso do estupro coletivo aqui no Rio. Foi mais um reforço para a gente manter essa campanha e dar este alerta sempre evidente”.
Ao serem perguntadas se sofrem assédio, as meninas confirmam e Elizabeth é categórica. “Todo dia, toda hora, para sempre”. Mirila complementa dizendo que “isso na rua é diário”. Na UFRJ, há vários cartazes alertando quanto à questão dos abusos, constrangimentos e danos causados às mulheres. Tantas outras instituições têm se organizado para combater o assédio de modo mais eficaz. “A gente sabe que não vai acabar com agora, isto é toda uma questão cultural”, aponta Elizabeth. Porém, por conta de maior consciência, amplitude desta conversa e empoderamento da mulher, elas acreditam que seja o melhor momento para discutir o assunto.
“As mulheres não estão ficando caladas. Não dá mais, chega, já passou esse tempo. E justamente por elas estarem enfrentando, elas vão ser enfrentadas com mais força. É possível que se tenha essa consciência do empoderamento sempre, desde criança, até com homens e mulheres. A questão é o respeito de igualdade entre todas as relações, gerações e gêneros”.