Você gosta de ler? O que você costuma ler? Você se considera uma pessoa leitora? A leitura importa?
Procure lembrar-se das suas primeiras experiências com a leitura. Com certeza o ato de ler está associado, para você, a uma atitude de reflexão. É provável que lhe tenham recomendado a leitura silenciosa, mas talvez não lhe tenham mostrado a leitura como possibilidade de visualização de outros mundos, tempos e lugares. Dificilmente lhe terão contado que a construção dos sentidos do texto se faz também ao falar, criar, ouvir, trocar, imaginar e sentir. Que a leitura não é apenas um ato individual, mas tem também uma dimensão de partilha e vivência coletiva.
Sobre as possibilidades que nos abre a leitura Sandra e José Henrique desejam conversar com você na próxima aula, em que vamos abordar o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo. A proposta é que as pessoas compartilhem a leitura de trechos dessa obra expressando o seu entendimento por meio das diferentes linguagens – o canto, a dança, o desenho, a encenação, etc. Então vamos falar um pouco dessa obra, que muitos de vocês já conhecem.
O cortiço é um romance naturalista, e, como tal, caracteriza-se pela ênfase no coletivo e no popular. Lançado em 1890, o livro conquistou um público que desejava encontrar nas suas páginas retratos mais fiéis do cotidiano e personagens que parecessem de carne e osso. O tom, que se pretendia objetivo, estabelecia o meio e a raça como forças determinantes das ações das personagens.
O Cortiço conta, em primeiro plano, a história de João Romão, imigrante português que, tendo chegado pobre ao Brasil, trabalha numa venda. Ele se amasia com a escrava de ganho Bertoleza e, à custa de muito trabalho, mas também de muita exploração, vai juntando dinheiro, com o qual adquire a pequena venda, constrói um cortiço e prospera. Paralelamente à história do vendeiro, desenrolam-se as histórias dos moradores – Rita Baiana, Pombinha e Jerônimo, entre outros.
Na visão de alguns estudiosos da literatura brasileira, entre eles Antônio Candido, o cortiço representado na obra de Aluísio Azevedo pode ser visto também como uma alegoria da nossa nação. A necessidade de uma autodefinição nacional, explica mestre Candido, torna constante no meio intelectual brasileiro, do século XIX até quase os nossos dias, a presença de obras que expliquem o Brasil e a brasilidade.