Na aula da última terça-feira, a Universidade das Quebradas foi o palco do Território, com o tema Como vejo, penso e faço o teatro. No encontro, os quebradeiros Claudina Oliveira, Fábio Mateus, Bebel Barreto, Bruno Lopes, Iris Medeiros e Breno Asbou, com mediação de Emílio Dante, falaram sobre as artes cênicas na educação escolar, universitária e popular, e ainda trouxeram as próprias histórias de superação e amor pela arte de interpretar.
A quebradeira Claudina Oliveira abriu a aula falando de como é o cotidiano de quem mora na Baixada Fluminense. Cidadã de Nova Iguaçu, Claudina apresentou um vídeo para mostrar que, apesar dos ainda poucos investimentos públicos, a Baixada Fluminense tem grande riqueza cultural produzida por sua população. Mãe de três filhos, a quebradeira também contou como o teatro mudou a sua vida.
Após passar com dificuldade pelo ensino médio, casar ainda aos 19 anos e tornar-se mãe logo em seguida, Claudina descobriu no palco um novo sonho, melhor do que qualquer outro que imaginou na infância. Aos 24 anos, entrou no curso de interpretação do Sesc de Nova Iguaçu e percebeu que a arte e a cultura estavam ali mesmo, na Baixada, tantas vezes subestimada. Com o teatro, Claudina aprendeu a ser cidadã.
Já o quebradeiro Fábio Mateus, levou para as Quebradas um quadro com dados que mostram a desigualdade de investimentos — públicos e privados — no setor cultural no Estado do Rio de Janeiro. Enquanto a região central e sul da cidade do Rio de Janeiro possuem mais de 500 espaços culturais, as outras áreas da capital têm cerca de nove teatros e nenhum espaço alternativo. E os números dos outros municípios são ainda mais tristes. Veja a tabela.
A questão levantada por Fábio foi o quanto essa dificuldade de acesso e produção de arte influencia na qualidade de vida das pessoas. Para ele, regiões como a Baixada, o interior, e a Região dos Lagos merecem mais atenção por serem a terra de muitos talentos. Com o vídeo A Baixada é boa, o quebradeiro divulgou o festival EncontrArte, que acontece anualmente em Nova Iguaçu. Segundo ele, que é integrante da equipe organizacional do evento, em cada edição, pelo menos 50% do público estão indo ao teatro pela primeira vez. É essa a realidade da população fluminense. Realidade que precisa ser mudada, por nós.
Em seguida, Bebel Barreto apresentou toda a sua experiência na utilização da expressão teatral dentro da animação cultural, posição que ocupa há 20 anos. A quebradeira lembrou como foi apresentada ao teatro, aos 8 anos, assistindo a peça Pluft, o fantasminha. Desde então, as artes cênicas se tornaram uma paixão. O primeiro curso de teatro foi aos 15 anos e deu início a uma vida profissional ligada à interpretação.
Trabalhando na escola, com formação de professores, a quebradeira provoca seus alunos dizendo que professor bom se movimenta, interage e conquista a atenção de seu público. Nada melhor do que a expressão corporal ensinada através do teatro para incentivar o uso do corpo para a comunicação. Para Bebel, o melhor da Universidade das Quebradas é a ação, a intervenção e a participação de todos como pessoas que também podem ensinar e ser ouvidas. Mais do que alunos, a UQ tem quebradeiros.
O estudante de Artes Cênicas da UFRJ, Bruno Lopes, fez uma apresentação sobre o que estuda em sua graduação e os projetos que já desenvolveu ao longo de sua vida acadêmica. O curso de formação teatral oferecido pela universidade possui cerca de 150 disciplinas, entre optativas e obrigatórias, e possibilita a especialização em Cenografia, Indumentária e Direção Teatral. Distribuídas entre a Escola de Belas Artes (EBA) e a Escola de Comunicação (ECO), as matérias permitem que os alunos tenham conhecimento sobre as diferentes etapas de produção de um espetáculo.
Como universitário, Bruno já ajudou a organizar eventos culturais nos espaços da UFRJ, como o Arraiá UFRJ — festa junina realizada anualmente no campus da praia Vermelha —, o Cultura Popular e o Natal no Fórum — realizados no Fórum de Ciência e Cultura (FCC), a Ópera na UFRJ, da Escola de Música (EM), e montagens teatrais. Exemplos de produções artísticas dentro do ambiente acadêmico, e destinadas ao público para além dos muros da universidade.
A segunda parte do Território continuou com a apresentação de Iris Medeiros e Breno Asbou. A quebradeira falou sobre seu trabalho em escolas ensinando Ginástica Rítmica, esporte que praticou desde criança até os 18 anos. Com vídeos e explicações sobre as características e dificuldades da modalidade, Iris ressaltou a importância da expressão corporal para as alunas. Em seus projetos, ela vê que as deficiências no conhecimento sobre o próprio corpo, o tempo e o espaço são limitações que atrapalham o desenvolvimento das meninas.
Para encerrar o Território, Breno falou sobre o teatro do Oprimido, de Augusto Boal, administrou algumas dinâmicas individuais e em grupo, mobilizando e movimentando os quebradeiros. Com exercícios de caminhada, composição de personagens e observação do outro, ele fez com que todos os participantes libertassem os inúmeros personagens que guardam dentro de si.
Fechando a tarde, os grupos apresentaram intervenções teatrais no espaço externo da UQ. Os quebradeiros romperam os limites e levaram o teatro para onde ele sempre deveria estar: na rua. De volta ao nosso salão, houve conversa e uma dinâmica de grupo, usando corpo e voz, proposta pelo Fábio. Com o sarau participativo, o grupo conseguiu aproximar pensamento e ação, num processo contínuo, sem ruptura.
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Vídeo apresentado por Claudina Oliveira. Com as músicas “Japeri”, de Bira da Vila, CD “O Canto da Baixada”, e “Beatbox e Violino”, do grupo de rap “Oriente”, de Niterói |
Por Júlia de Marins – Bolsista PIBEX/ECO – 18 de abril de 2013