O que pode haver de (in) comum nas produções do mulato semianalfabeto Sinhô, oriundo das camadas populares, considerado o “Rei do Samba” amaxixado dos anos 1920, e do jovem branco classe média, com boa formação escolar, Noel Rosa, chamado de filósofo e poeta do samba, autor de uma obra considerada por muitos o fundamento inventivo da modernidade na música popular brasileira?
A ideia contida em De Sinhô para Noel é a de que há uma linha de passes entre a produção de um e outro autor. Menos pela forma específica de suas obras e mais pelas funções cumpridas na vida da cidade: ambos foram mensageiros transculturais no Rio de suas épocas, transitando por classes e culturas múltiplas, aproximando bolsões criativos não articulados, e, também, verdadeiros cronistas sonoros do espaço e tempo em que viveram: irônicos, ácidos, (in) oportunos, polêmicos, atentos, geniais, fizeram do samba carioca a voz da cidade.