Antes da cerimônia de formatura oficialmente começar, o clima era de uma descontração tipicamente quebradeira: sorrisos e abraços sendo distribuídos. Quando a Cristina Hare, apresentadora do evento, convidou professores, quebradeiros e convidados para sentarem, não foi diferente. Antes de falar sobre o que aconteceu, melhor rever. E foi essa a sensação que o vídeo da Denise Kosta passou. Foi como reviver os momentos mais emblemáticos que levaram, mesmo sem perceber, à formatura.
O primeiro discurso homenageando os formandos foi da professora Heloísa Buarque de Hollanda, que falou sobre a alegria da formatura da 3a turma do Projeto Universidade das Quebradas. Segundo Heloísa, as Quebradas são um projeto de vida, de construção de saber, não apenas um curso.
Em seguida, foi a vez da professora Sandra Portugal. Usando o seu típico “minha gente”, ela começou contando sobre os questionamentos que Sócrates fazia sobre o que é o conhecimento e o que é ser um homem sábio. Sobre como, na Grécia antiga, o filósofo questionou todas as coisas e concluiu quando julgado, no final de sua vida: “Só sei que nada sei”. Depois, Sandra contou a história de Ossãe, que na mitologia iorubá é o senhor das folhas. O mito conta que o orixá Ossãe tinha o conhecimento sobre todas as folhas e que, um dia, Xangô deu a ideia de Iansã lançar uma ventania e sacudir as folhas. E foi assim, durante a ventania, que cada orixá conseguiu uma folha. Com esta lição Sandra encerrou dizendo: “É preciso alguém para movimentar e distribuir o conhecimento. Existe um saber que não é o tradicional e que precisa ser difundido. As coisas não precisam ficar sempre paradas no mesmo lugar”. E parafraseando os gritos das manifestações convocou: “Vem, pras Quebradas, vem!”
Em seguinda, Sandra Maya, oradora da turma do Flamengo, fez um discurso emocionado sobre os amigos que fez ali e sobre como foi importante, pessoal e profissionalmente, fazer parte das Quebradas. O discurso está em PDF.
Os agradecimentos do polo da Rocinha foram feitos pelo orador Marcelo Melo, que é ator e poeta, e faz parte do grupo Nós do Morro. Marcelo falou sobre como as pessoas que conheceu já criaram uma rede que troca informações e que está gera impacto. Para encerrar, falou um poema de Patricia Oliveira, de forma intensa, emocionando a plateia.
O professor Aderaldo Luciano chegou ao palco ovacionado, aplaudido de pé. Paraninfo unânime das duas turmas, a sua homenagem e o seu agradecimento foram elaborados na forma de cordel. O cordel da formatura. Foi muitíssimo aplaudido e fez o público entrar em uma viagem a cada estrofe.
Na entrega dos certificados, Consuêlo Ribeiro e Tetsuo Takita foram os mestres de cerimônia, e acompanharam cada formando para recebê-lo. No palco, os professores Nelson Vieira e Paul Heritage entregaram os certificados que significam muito e que resumem todas as aulas incríveis que aconteceram no último ano.
A celebração pela entrega do certificado aconteceu de uma forma bem quebradeira: um delicioso sarau. Breno Asbou e Iris Medeiros, os apresentadores, divertiram o público entre uma atração e outra. Clarisse Azul foi a primeira a se apresentar — uma coreografia ao som de Monomania, de Clarisse Falcão. Em seguida, Breno e Iris apresentaram “Mostrando as prendas”, um dos contos da obra Contos tradicionais do Brasil, adaptado na Linguagem Brasileira de Sinais.
Ana Cê e Samira Marques estavam encantando o público com os movimentos fluidos da dança afro quando o João Griôt entrou em cena e pediu para usar um violão. O público estranhou, mas tudo ganhou novos ares quando ficou claro que era uma homenagem para a Rosângela Gomes, a Rô, e, nas palavras de cada quebradeiro que discursou, mãe, amiga e irmã.
A performance “Gata amarrada em saco de pano”, apresentada pela Vanessa Pequeno, arrancou gargalhadas e foi seguida da apresentação cheia de significado poético de Romualdo Vieira de Melo, Clarisse Azul e Ângela Carneiro. A última apresentação foi dos jovens da Central Cultura Urbana, Marlons Santos e Paulo Henrique do Grupo Libertá, que fizeram todo mundo levantar e dançar junto.
Foi um ano intenso de troca de saberes e de discussões que vão muito além do que foi dito no salão majestoso do Colégio de Altos Estudos da UFRJ ou na Biblioteca Parque da Rocinha. Essa inquietação agora vai ser multiplicada por toda a turma em seus territórios.
“Ser quebradeiro é um ‘saber ouvir’. E é com isso que a gente vai construir o saber no século XXI”, professora Heloísa, ao encerrar a fala de abertura.
No dia seguinte, a quebradeira Adriana Baptista publicou no seu blog Movimento e mídia seu relato sobre a formatura. Vale a pena conferir o que a Adriana viu.
Você também pode contar pra gente o que viu e registrou na festa de formatura.
Bárbara Reis – Bolsista PIBEX PACC/UFRJ