Neste primeiro parágrafo, temos que deixar claro que o texto que se segue estará restrito a uma visão um tanto reduzida, ou melhor, é uma visão diante de uma experiência vivida em um curto tempo e em apenas uma aldeia diretamente (havia bem próximo outras duas aldeias de etnias diferentes, mas não mantivemos contato direto). Mas com esta vivência reformulamos nossos conceitos sobre o índio, e fizemos uma breve análise antropológica sobre a estrutura social, econômica e cultural da tribo Pataxó, do sul mineiro, mais precisamente na região Terra Guarani.
Talvez o ponto mais importante de tudo seja o contato direto que tivemos, e assim a possibilidade de experimentar o comportamento do índio na atualidade, em meio a todo crescimento científico, urbano, aos movimentos culturais, o crescimento de subgrupos, os fluxos e refluxos econômicos e políticos. Pudemos observar as influências do mundo de hoje, em paralelo aos esforços de manter vivos aspectos dos costumes antigos, do qual nós, “homens brancos”, ainda esperamos que o índio deve ser. Desta última afirmativa, devo alertar e repreender, por ser uma visão um tanto anacrônica e ignorante!
Em uma conversa com o pajé da tribo, o Itahã, ele expressa o fato com a seguinte frase: “Nós índios podemos ser o que os homens brancos são, sendo nós mesmos!” Nota-se aqui que, mesmo neste novo constructo social daquela tribo, ainda há uma preocupação em manter sua identidade indígena viva e latente. Ora, o fato é que em verdade existem várias tribos com etnias diferentes e em localizações variadas aqui no Brasil, assim como várias tribos com a mesma etnia, porém, com posturas diferentes em relação à vontade de misturar culturas.
Em suma, ficamos muito felizes por poder escrever sobre uma abordagem antropológica que nos faça repensar nossa ideia sobre o índio, e sobre, principalmente, a visão do índio Pataxó sul mineiro sobre tal impacto cultural em sua vida, e assim mudar a visão mitificada do “homens brancos” em relação ao comportamento do índio nos tempos de hoje.
Em suma, ficamos muito felizes por poder escrever sobre uma abordagem antropológica que nos faça repensar nossa ideia sobre o índio, e sobre, principalmente, a visão do índio Pataxó sul mineiro sobre tal impacto cultural em sua vida, e assim mudar a visão mitificada do “homens brancos” em relação ao comportamento do índio nos tempos de hoje.
O cacique Ararybhy esclareceu que ainda preservam também muito dos rituais, seja para casar, agradecer, entre outros. Um exemplo claro desta mistura está na escola da tribo, onde é ensinado, desde os primeiros anos, além da língua portuguesa, o Patxôhã, dialeto nativo da etnia Pataxó, assim como a história deste povo. Uma observância importante: o próprio cacique Ararybhy é professor de cultura, uso do território nos costumes tradicionais e língua Pataxó, além de pesquisador da história de seu povo e escritor.
Em nossa conversa, ele expressa a dificuldade de remontar o passado de sua tribo, tendo pouco material restado ao longo do tempo, causa direta da interferência e relação com os europeus. Outro exemplo que pudemos conhecer está na diferenciada estrutura social daquela tribo, em que cada indivíduo tem sua participação efetiva em alguma atividade específica da estrutura. Exemplo disso é a mentalidade do Deveré, que preserva os aspectos dos costumes mais antigos, e a hierarquia é uma forma de dever, e não de apenas querer.
Mais tarde, em conversa com a Aryomã, professora das crianças, ela nos contou sobre a função exercida na tribo, e que cada individuo faz o que de melhor ele contribuirá dentro das necessidades coletivas. Ou seja, há uma preocupação com o todo, e não com a necessidade pessoal. Abre-se aqui um grande parêntese… as questões filosóficas e psicanalíticas de cada ser. Não pensamos no que cada indivíduo daquela tribo quer para si, mas na estrutura formada de modo geral, que independe da necessidade pessoal, soando mais como células de uma estrutura de unidade, que deve ser a tribo como um todo.
Neste pequeno texto, com certeza, não pudemos descrever metade do que foi visto, ouvido e vivida lá. Mas com toda certeza ficamos muito felizes por essa experiência. Chato é que foi breve, porém grande! Principalmente pelo fato da tribo já não mais abrir esse tipo de trabalho e conversa para um “homem branco” qualquer que chegue na aldeia (eles estão céticos e rigorosos por trabalhos frustrantes de outrora), ficando bem restrita e profunda nossa passagem por lá.
Esperamos poder mostrar em vídeo um pouco de como vive o índio, hoje, daquela aldeia. Apesar de muitas horas de vídeo documentadas, ainda é pouco para contar sobre a vida dos Pataxós.
Texto e fotos por: Sandra Lima e Tiago M Souza