Fiz uma proposta para uma Camiseta Educação, projeto da galeria A gentil carioca, que comemorou 10 anos de existência, numa festa, na sexta-feira, 6 de setembro.
O projeto, em sua 51a edição, tem sido executado por artistas que expressam, em geral, através de uma frase estampada na camiseta, sua visão sobre educação.
Minha proposta consistiu em promover um processo. Mais do que dizer o que é educação, eu queria promover uma ação experimental que envolvesse uma troca de saberes entre indivíduos diferentes. Organizar um trabalho coletivo com pessoas que não circulam no ambiente oficial da arte, porém atuam como artistas em seu território, em seu cotidiano. Queria desvendar com o processo a questão da negociação entre as diferenças, queria escancarar a atitude de inclusão, que é o oposto da prática curatorial das galerias, que estão sempre apontando para o que é belo, digno e inteligente para ser publicado, mostrado e vendido como arte.
Selecionar e escolher podem ser procedimentos adequados para o mercado, mas não para a educação. Para os processos educacionais, quanto mais diferentes forem os atores envolvidos em um encontro, maior a chance de acontecer trocas significativas.
Convidei algumas pessoas com as quais eu já havia trabalhado. Consegui reunir para um trabalho, durante três sábados, um grupo com sete artistas, entre eles duas quebradeiras; Denise Kosta e Jussara Santos.
Em meio a discussões, propostas e ideias, todos concordaram que a camiseta seria feita na hora da festa, usando a técnica de estêncil, de modo que as pessoas pudessem participar, escolhendo as cores e formas e até mesmo realizando a sua camiseta na hora.
Claro que se uma pessoa vai fazer algo sozinha, ela se concentra, resolve o projeto e manda fazer. Este foi o método de realização das outras 50 camisetas. Num processo coletivo, há um tempo mais esgarçado, é preciso afinar, trocar, ouvir, e tudo isso demanda horas de conversa, e fizemos alguns metros de conversas no Facebook com nossas trocas durante as duas semanas que antecederam o dia da festa.
Entre outras atividades, estudamos as possibilidades da tipografia estêncil, e cada membro do grupo desenhou uma letra da palavra educação. Foram feitas máscaras recortadas em acetato e também em papel adesivo. Escolhemos e pensamos nas relações entre as cores, manipulando amostras de um Sistema Munsell.
A festa foi divertida, compartilhamos este momento de realização com muita cumplicidade e reforçamos os nosso laços.
Satisfeita com o processo, aprendi algumas coisas, experimentei outras e adorei nossa camiseta. Estou vestindo educação desde sexta-feira; não consigo tirar esta palavra do corpo, escrita com estas letras “desarmoniosas” que querem dizer tanta coisa.
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Beá Meira
coordenadora pedagógica da UQ