A literatura produzida atualmente nas periferias brasileiras é o tema do novo livro do escritor mexicano Alejandro Reyes, Vozes do Porão: Literatura Periférica/Marginal no Brasil que faz parte da coleção Tramas Urbanas da Editora Aeroplano..
Alejandro Reyes esteve ontem na Universidade das Quebradas para apresentar seu livro e falar sobre literatura e política. Fruto de uma tese de doutorado na Universidade de Berkeley na Califórnia, o trabalho, explica o escritor, tem “intenção de contribuir para a construção de alternativas neste momento de crise global”..
Ele contou brevemente que a literatura que foi chamada de marginal, foi escrita na década de 1980, por autores da classe média que se colocaram fora do cânone, produzindo livros artesanais. A partir de 2000, uma literatura muito forte surge na periferia de São Paulo, em regiões de favela e prisões. Esta literatura ocupa os bares com saraus como o da Cooperifa e Sarau do Binho. O escritor revelou que um marco neste movimento aconteceu quando o escritor Ferrez organizou três volumes da revista Caros Amigos sobre esta Literatura Marginal, apresentando uma série de textos inclusive do Comandante Marcos ligado ao movimento Zapatista.
Mexicano que morou na Bahia, Alejandro se define como um escritor ativista. Ele acredita que as palavras têm mais poder que as balas e afirmou: A literatura precisa fazer um questionamento ético não apenas estético.
Alejandro nos contou que 95% do crescimento populacional no mundo se dá em áreas periféricas onde as pessoas vivem de subemprego e sonham com o tempo em que eram explorados e tinham salario, ele disse: Vivemos em uma panela de pressão!
O autor afirma que esta panela só não explode por causa das Ongs e programas como o Bolsa Família, que funcionam como band aids e porque a polícia está sempre pronta para dar porrada na cabeça daqueles que protestam.
Ele também comentou sobre as reflexões do escritor paulistano Allan da Rosa, que percebeu o papel limitado na capacidade de transformação social dos saraus. Allan está atualmente organizando cursos baseados na reflexão sobre a cultura afrobrasileira. Falou ainda sobre o movimento revolucionário Zapatista que há vinte anos experimenta a construção de uma autonomia no sul do México, constituindo escolas, sistemas de saúde e de justiça independentes do estado.
E atenção: quem quiser trocar ideias com Alejandro Reys, ele estará participando, hoje dia 11 de setembro, do circulo de conversas Resistência e/em Movimento, na Rua Alcino Guanabara (ocupação Manuel Congo) Cinelândia, ás 19 horas, e amanhã dia 12 de setembro, no Sarau Apafunk.