“ A arte publica é a possível arte do futuro.”
por Amir Haddad
O semestre na Universidade das Quebradas foi iniciado com o pé direito, tivemos uma aula maravilhosa e descontraída sobre arte pública, ministrada pelo ilustre ator, diretor de teatro e teatrólogo brasileiro, Amir Haddad.
No começo de sua fala, o diretor comparou as atividades que ocorrem nas quebradas com o projeto do antropólogo Darcy Ribeiro, “Animação Cultural” para os CIEPS da cidade do Rio de Janeiro, que visava uma troca de conhecimentos de uma maneira horizontal, independentemente da área conhecimento específica das pessoas inseridas. Em sua opinião, o saber avança a partir da soma das diferenças, da trama entre raça, origem, sexualidade, contextos variados.
O sentido corrente do conceito de arte pública refere-se à arte realizada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela; os museus e galerias. Arte pública foi no passado os monumentos que eram construídos nas praças. Mas hoje é preciso ampliar este conceito. Arte pública engloba todas aquelas atividades que são exercidas publicamente; as performances, o teatro, o circo, o malabarista, o crochet nas árvores. A ideia geral é de que se trata de arte fisicamente acessível, que modifica a paisagem circundante, de modo permanente ou temporário.
A arte não pode se resumir a magnífica subjetividade de um artista vinculado a super arte, a arte canônica e aos espaços gigantescos destinados para esta produção. Amir afirma: “Não podemos ser prisioneiros dos conteúdos ideológicos do que a burguesia definiu como arte. É preciso que alguma coisa retorne para o público”. “A cidade não pode ser dos empreiteiros, ou dos donos das empresas de ônibus, a cidade não pode ser para quem vive dela, mas para quem vive nela!”
Amir fez um paralelo entre a chamada arte pública e privada, que segundo ele não devem ser comparadas, são coisas diferentes. Para Haddad, “Tudo caminha para a privatização, tudo caminha para certo tipo de controle. Tudo caminha para certo tipo de apoio. Tudo caminha para certo tipo de edital. As políticas públicas todas são feitas para as Artes Privadas”. E o que não faz parte deste mundo privado não tem valor.
Amir inspirou a plateia com suas posições claras e revolucionárias:
“Eu tenho uma utopia de que o artista seja sustentado pela cidade, pelo cidadão que reconhece o artista como seu patrimônio.”
“Precisamos construir um novo mundo que nos faça esquecer este que vivemos agora”.
” Não existe contemporaneidade sem ancestralidade. O mal do brasileiro é achar que não tem História”. “O futuro não será a virtualidade. Senão o que me restará do corpo, da ancestralidade e do afeto?”
” O pecado do artista é a liberdade, eu nasci livre, como eu vou ser privado? O artista é inconveniente”
“Não podemos vender o que temos de melhor para dar”
Um grande exemplo de arte pública é um projeto que está sob a direção do próprio Amir Haddad, o Tá na rua, um grupo de teatro de rua da cidade do Rio de Janeiro. Fundado em 1980 e sediado na Lapa, o grupo vem desenvolvendo uma pesquisa de uma linguagem própria para apresentações nas ruas cariocas, inspirada em Bertold Brecht (1898 – 1956) e no carnaval. Eles se apresentam todas terças no Largo da Lapa às 19 horas.
Mas as coisas têm mudado, em 2013 foi realizado, na Lapa, o Fórum de Arte Pública, espaço aberto para artistas de rua discutir políticas para as artes públicas. Isso resultou no festival, também batizado de “Arte Pública – Uma política em construção”, apoiado pela prefeitura, que está sendo desenvolvido por grupos que atuam nas praças Sans Peña, no Largo do Machado, na praça da Harmonia na Gamboa e na Lapa.
Leitura Complementar:
Site do grupo de teatro “Tá na rua”.
Página na facebook sobre o Grupo de teatro “Tá na rua”.
Vídeo no qual Amir Haddad fala sobre arte pública.
Octávio de Souza– Bolsista PIBEX PACC\UFRJ