Depoimento de Tássia di Carvalho* | Quebradeira de 2013, 2014 e 2022
Eu voltei! Nós voltamos! Contra todas as impossibilidades que dois anos de pandemia impuseram, na última terça eu senti, voltei! Eu tava lá, naquela sala no meio do MAR! Aquele mesmo espaço que em 2013 me recebeu, aquela mulher perdida que não sabia o que faria ali, da sua vida!
Eu recomecei em 2013 na Universidade das Quebradas! Talvez eu não tenha recomeçado, talvez eu tenha começado! Muita gente não sabe ou não entende como ou porquê minha carreira deu algumas guinadas e em que momento eu me tornei a Tássia di Carvalho, tudo começou em 2013, com a Universidade das Quebradas!
Eu cheguei nas Quebradas doente, tinha começado a fazer quimioterapia, estava desempregada fazendo um freela que ia completamente para o meu tratamento, me sentindo vazia e abandonada pelos amigos que achava que tinha. Me formei um ano depois cabeluda, com amigos que tenho até hoje, desfilando no meio do museu mais disruptivo da cena naquele momento, escrevendo para o jornal mais lido do Rio (e muito, muito cabeluda).
Nas próximas linhas eu vou contar um pouco sobre um hiato que se deu aqui, em mim, um algo que eu queria preencher, mas de que? O que faltava? Não sabia eu! Eu lutei anos buscando entender o que me faltava enquanto minha carreira ascendia, na última terça-feira eu senti: eu voltei! Aquele pedacinho perdido que se sentiu ainda mais vago depois de dois anos de pandemia, de enterrar sonhos e amigos, de sofrer lutos. Aquele pedacinho que eu pensei morreu, tá enterrado, gritou: VOLTEI!
Durante a chegança tentava entender que pedacinho afinal era esse, de quem eu poderia sentir tanta falta e não ter dado falta: será que a COVID afetou tanto assim minhas lembranças? Não poderia! Olho para o lado e fica claro: era o eu junto do outro!
Tão transparente quanto o Rio Sucuri, em Bonito (Mato Grosso do Sul) ou as Piscinas Naturais de Porto de Galinhas (terra de Numa Ciro, em Pernambuco) eu me vejo no outro. Trabalhar home office tem suas vantagens, não me entenda mal, mas uma das coisas que eu mais apreciava e que sempre deu gás para as minhas produções textuais foram as trocas de saberes coletivas, como senti falta. De me ver no outro, de conhecer o outro, de estar próxima fisicamente de mais de duas pessoas, de conversar assuntos correlatos e também análogos.
Vontade de ir andando para a Central (mesmo havendo um ônibus na esquina) só para poder dar continuidade ao assunto que foi abordado durante a aula! Calma, se você não sofreu disso, em breve sofrerá e é delicioso!
(foto do acervo do curso)
Quando percebi o que era, chorei, aquela sala tão linda, vacinada e performando imunizada, sim, fiquei passada. Depois de dois anos, acho que talvez, a esperança tenha parecido algo distante e intangível, afinal 661 mil pessoas morreram: um genocídio em massa em que ainda precisamos trabalhar e produzir nossas artes, como se estivéssemos bem, mas passamos por isso (ou ao menos deveríamos ter passado) sem um abraço dos nossos amigos e de muitos de nossos familiares.
Os abraços que eu recebi na terça, não queria soltar, queria morar dentro deles, não seria possível? lembro que no início, quando achava que seriam 14 dias eu pensei: ok, folga! Mas por mais introspectivo que você seja, não fomos criados para sermos sós e esses dois anos me mostraram o quanto eu sinto falta de estar num grupo, de abraçar, de apertar as mãos e até de pessoas chatas que cutucam (isso não é um convite, ok?).
(foto do acervo do curso)
Ver o samba nascer, receber aquela rosa branca complementaram tudo, sim, claro, mas se nada disso tivesse existido, ter estado lá e morado em um daqueles abraços, novos ou antigos já é um sonho enorme realizado, algo que eu pensei: nunca voltaremos a ser como antes, na TV falavam em “novo normal”, mas o novo é bem velho e eu descobri que eu sou apaixonada pelo meu velho normal, e por aí?
Se você está chegando agora, aproveite! Um dia eu vou voltar para contar como que através das Quebradas eu cheguei a ser colunista de um dos maiores jornais do Brasil, depois eu conto até outras histórias se vocês gostarem, sei lá.
* Tássia di Carvalho é graduada em Jornalismo e Publicidade e Propaganda, além de possuir MBA em Mídias Sociais e especialização em Marketing Digital e Cultura Contemporânea; Quebradeira das edições 2013, 2014 e 2022. Criou a Agência Is em junho de 2016, assim que saiu do Jornal O Dia, onde era colunista e repórter. No periódico, cobria o lado positivo das favelas e periferias e percebeu um nicho em que poderia atuar, ajudando os pequenos projetos que inseria nas páginas de publicação. Em pouco tempo, viu que a demanda na área de comunicação era necessária em diversas organizações do terceiro setor e de ações de impacto social. Em três anos, a Is já contabiliza mais de 35 clientes, desde os pequenos projetos que ela queria ajudar até grandes organizações de renome internacional como British Council, BrazilFoundation, Favela Mundo e FLUP. Palestrou em grandes eventos como TEDxPedra do Sal, MindTalk e BlackTalks.