Beá Meira e a Universidade das Quebradas – uma declaração de amor

bea-fotoHá quatro anos faço parte da equipe pedagógica do projeto Universidade das Quebradas, um curso de extensão da UFRJ, que promove o encontro entre a Academia e os artistas da periferia com o propósito de refletir, discutir e inventar a cultura do século XXI.

Esta experiência transformadora, modificou por completo minha visão de mundo, minha compreensão do que é cultura e me inseriu num ambiente de cidadania ativa, criativa e questionadora, que tem tradição no Rio de Janeiro, uma cidade que convive e abriga as contradições  entre o asfalto e a favela há muitas décadas.

Conviver com este grupo cada vez maior de artistas e produtores culturais, que têm uma visão arguta da sociedade, que vivem experiências extremas de solidariedade e capazes de imaginar um mundo a partir de valores não mercadológicos, é sobretudo um privilégio.

O campo em que este ambiente de troca se estabelece é a cultura. A arte é o tema, o assunto, o motivo, a desculpa, o caminho, a estratégia, o nosso território de encontro. Por ela nos embrenhamos nas leituras mais provocadoras, entramos em contato com os mitos de sociedades que viveram em outros tempos, discutimos as injustiças sociais, revemos as história política do Brasil, pensamos na nossa finitude, expressamos nossos desejos, nossas perdas, nossas heranças.

A cultura digital promoveu o acesso a arte para todos, não apenas como consumidores, mas principalmente como produtores. A luta por oportunidades iguais aos direitos sociais como educação e saúde, se estende  hoje, ao direito de cada um à vivenciar a dimensão subjetiva e estética da vida.

Num mundo tão complexo, em crise, como este que vivemos, as trocas de saberes radicais, a interlocução ousada, a disposição para as vozes pouco ouvidas, fazem diferença.

Em nossas práticas na Universidade das Quebradas, estimulamos os artistas a refletirem sobre seu trabalho, a escreverem sobre a cultura da periferia, a debaterem as diferenças sociais, religiosas e políticas dos variados grupos. Parte importante da metodologia é criar redes de troca entre pessoas de idades, formações e contextos variados.

Apresentamos a cultura do ocidente e seu cânone, convidando professores para aulas de filosofia, literatura, musica, teatro, artes visuais, dança e cinema.  O programa experimental têm nos mostrado, que todo tema, quando abordado com intensidade e paixão, pode trazer boas discussões para o grupo.

Todos estes processos tem visibilidade na plataforma digital. No site damos continuidade as discussões e temas trazidos para sala de aulas, divulgamos os trabalhos dos artistas da periferia, promovemos o debate de questões que atravessam o nosso cotidiano, alargamos a nossa rede de trocas e almejamos a produção de um conhecimento coletivo.

 

Texto e imagem publicados no site das editoras Ática e Scipione, como parte da campanha #EducarTransforma:

http://www.scipioneatica.com.br/fp_governo/artigos/ARTIGO_ARTE.pdf