Blogueiro, ativista, jornalista, cantor, poeta, escritor, artistas de todos os tipos, todos juntos e misturados, porque a Escola dos Sonhos começou. A Chegança ocorreu dia 7 de agosto, inaugurando a 3ª edição da Universidade das Quebradas. O ritual de boas vindas foi alvo de grande expectativa dos quebradeiros novos e antigos. “Quero acolher os novos quebradeiros da mesma forma que fui acolhida. Espero que eles se sintam pertencentes das Quebradas e que sejam muito bem-vindos”, diz Andressa Gonçalves. Grasiela Araújo, nova quebradeira, falou sobre o diferencial do projeto: “A metodologia da UQ é revolucionária por juntar o conhecimento popular com o acadêmico. Não importa de onde você é, aqui está todo mundo junto”.
Heloisa Buarque de Hollanda, coordenadora do projeto, começou a festa com muito bom humor ao dizer que quebrou o pé para vestir a camisa da Universidade. “Virei avó das Quebradas. É uma felicidade inteira ver uma nova edição. A UQ está crescendo, alcançando aquisições novas e fundamentais. Estamos, realmente, invadindo a universidade.”
Em nome do conselho diretor da Universidade das Quebradas, o mais novo conselheiro, Charles Siqueira, deu as boas-vindas a todos. Depois de contar sobre sua trajetória de vida de grande líder comunitário, coordenador do Galera.com, líder do Acredite e Faça Acontecer no Morro dos Prazeres, e idealizador do projeto ING, Indivíduo Não Governamental, Charles deu uma dica aos novos quebradeiros: “Esteja por inteiro nas Quebradas”.
Os antigos quebradeiros recepcionaram os novos participantes com muita animação e alegria. Os novos alunos se apresentaram em três palavras e definiram as Quebradas em uma. A tarefa era um grande desafio, dizer muito em tão pouco. “Espero que seja um lugar de mistura de conhecimentos, que faça você ir além, que te potencialize”, diz Rafael Calazans. “A arte está em todo lugar. E aqui olhares diferentes se encontram em um ponto em comum”, definiu Maria Emília.
Romualdo Vieira, artista criador do estandarte da UQ, falou da importância das Quebradas em sua jornada. “Esse projeto foi determinante na minha vida. A dificuldade de cada um aqui é um exemplo para mim. A UQ é todo esse contato e luta.”
Anick Lorena leu o texto que escreveu com Emílio Dante em agradecimento a Heloisa. “Acreditamos que o diálogo entre Academia e Periferia tem produzido valorozos conteúdos, mas ainda temos muito a progredir, por isso uma vez Quebradeiro, sempre Quebradeiro e nesse colóquio é que eu gostaria de homenagear a Heloisa Buarque de Holanda: Professora, escritora, Coordenadora do Projeto, além de tantas outras mais e acima de tudo uma vencedora. Uma mulher guerreira e acima de qualquer coisa: humana, trazendo suas influências, focando sua formação erudita para as questões sociais, com seu olhar visionário direcionando todo seu conhecimento para a Arte periférica e suas tecnologias. O Sagrado = Academia e o Profano = Periferia, Heloisa une as duas vertentes e dá vida a UQ.”
A aula inaugural foi de Vilma Guimarães, Gerente Geral de Educação e Implementação da Fundação Roberto Marinho. Ela definiu a UQ como o encontro de cada um com o outro. E disse que a informação circula tão rápido, que é preciso correr atrás dela para que vire conhecimento. “O número de alunos presentes hoje mostra a consolidação desse projeto, que deve ser um exemplo para as universidades do Brasil e do mundo.”
A Universidade das Quebradas foi palco de dança. Eliete Miranda interpretou a Ancestralidade Feminina. “A inspiração vem de muito tempo, desde que nasci. É uma busca por meus ancestrais. E isso não são heranças, mas herdanças. Na performance, busco o Sankofa, pássaro africano, que com o bico para trás carrega um ovo para levar para frente. É uma volta ao passado para resignificar o presente. O que é um símbolo de resistência, é um símbolo político e de igualdade. E a ideia é trazer em 1 minuto essa busca constante.”
A 3ª edição está bem junta e misturada, inclusive com uma quebradeira mexicana. “Fiquei sabendo do projeto pelo twitter, já que sigo o Observatório das Favelas. Acredito que a UQ seja uma oportunidade de conhecer o Brasil de outra maneira e de aprender mais sobre o país”, explica Daniela Alatore. Além da participação de alunos de Pedagogia da UFRJ. “É um contato, uma troca e uma vivência com a cultura da periferia, que são fundamentais para formar melhor os professores”, explicou Natália Barbosa. O grupo seguiu a indicação da professora Sílvia Soter. “A UQ é o encontro de quem pensa e de quem faz fora da faculdade com quem pensa e quem faz dentro da faculdade”, explicou Sílvia.
Os antigos quebradeiros tinham muito que compartilhar nesse reencontro. “A ideia é trafegar seu conhecimento com o universal. A sensação de ver outra edição é de renovação. Se ficar no antigo vai deixar de ser UQ”, disse Feijah’N. Já Tom Rodrigues, criador do Rap das Quebradas, falou sobre a importância do projeto na hora da criação. “A UQ abriu minha mente para conhecer novos tipos de cultura. A inspiração vem conforme as aulas, e com o fato de que cada quebradeiro tem um problema e uma solução. Ninguém sabe tudo, ninguém viveu tudo, a ideia de ser quebradeiro é que ele sinta um pouco de todo mundo, além de ter consciência que o saber dele não é único.”
É hora de dar as mãos e dançar ao som de “Minha Ciranda” de Lia de Itamaracá. A Chegança chegou ao fim, mas a Escola dos Sonhos acaba de começar.
Por Mariana Mauro (Bolsista PIBEX – ECO/UFRJ)