Na última terça-feira, dia 21, aconteceu a Chegança, evento que marca o início das atividades da Universidade das Quebradas, no Museu de Arte do Rio (MAR). Sempre muito aguardada, a Chegança integrou quebradeiros novos e antigos, e deu o pontapé inicial a um novo semestre de aulas.
A professora Heloisa Buarque de Hollanda começou contando como nasceu o projeto que deu origem às Quebradas, agradeceu aos patrocinadores e passou a palavra para Numa Ciro, que concebeu a UQ enquanto preparava sua tese de doutorado. Ela avisou à comunidade acadêmica: “Cuidado com as teses de seus orientandos, elas podem conter uma bomba!” Logo em seguida, a palavra foi passada para Eleonora Ziller, que representou a Faculdade de Letras da UFRJ, e Janaína Melo, que deu as boas-vindas em nome do MAR.
Paulo Herkenhoff, curador e diretor do MAR, também deu calorosas boas-vindas aos quebradeiros e destacou a importância do novo museu no cenário cultural do Rio de Janeiro. A partir de uma folha de papel em branco, fez referência a uma obra da artista Lygia Clark, a uma escultura de Amilcar de Castro, e construiu uma fita de Möbius, um espaço topológico contínuo, que desafia as definições de dentro e fora, antes e depois. Paulo falou, ainda, sobre a importância da individualidade, a relação simbólica entre o eu e o outro, e afirmou que a arte é um não saber que nos move.
O curador colocou que a arte não existe, se não houver alguém para projetar sobre ela algum significado. Ele foi categórico quando afirmou que a arte necessita da dúvida, porque se para fazer arte houvesse uma receita, as hipóteses reafirmariam as regras, e não a exceção. Não se trata de repetir uma experiência bem-sucedida, mas apenas de se nutrir da tradição.
Para encerrar, Paulo Herkenhoff disse acreditar que o MAR trará algo de novo para a Universidade das Quebradas: O que se realiza aqui precisa ter um valor simbólico maior do que está sendo investido. Depois se referiu ao quebradeiro Eduardo de Souza Baptista, do Chapéu Mangueira, ao comentar o trabalho de Celeida Toste (1929-1995) realizado neste bairro na década de 1980, que pode ser apontado como um modelo de como viver junto (tema da 27a Bienal de Arte de São Paulo, realizada em 2006). Falou também sobre a obra Morrinhos, coordenada pela artista Paula Trope. Esta obra foi a que mais comoveu o público do MAR, e agora foi instalada na área externa do museu, chamada Pilotis. Finalizou afirmando que a experiência estética pode mudar as pessoas.
Hare e Leandro, de turmas anteriores do projeto, receberam os quebradeiros em nome das turmas antigas e passaram a palavra a MC Marechal que contou um pouco sobre sua própria história com a UQ antes de cantar as músicas ‘Guerra’, ‘Griot’ e ‘Viagem’.
A gente tem que enfrentar essa guerra diariamente
Saber que às vezes tá calor, às vezes faz frio
Entender qual é o procedimento
Não se camuflar! Ir pra frente!
É a Guerra Neguinho.
MC Marechal
Logo em seguida, os mestres quebradeiros Leandro Santanna, Cristina Hare, Rute Casoy, Ana Cê, Romualdo e Jussara Santos contaram um pouco sobre o que as Quebradas representam na sua vida, e convidaram os novos quebradeiros a se apresentarem dizendo nome, atividade e lugar de onde veio. Cada um escreveu essas informações em um post it, que foi colado no mapa do Rio de Janeiro projetado na parede da sala. A região metropolitana do Rio de Janeiro foi verdadeiramente tomada pelas Quebradas. Essa capilarização, esse sentimento de rede, isso é a Universidade das Quebradas.
Bárbara Reis e Priscila Medeiros – Bolsistas PIBEX PACC\UFRJ