Um desafio a pensar sobre identidade, pluralidade, consciência e política de uma forma crítica e questionadora. Foi essa a proposta lançada pelo professor de antropologia da UFF Júlio Tavares, na última terça-feira das Quebradas. Sabe aquelas conversas que te modificam e provocam um olhar diferente sobre você mesmo no mundo? Foi exatamente o que aconteceu durante a aula sobre Consciência e Justiça.
Júlio começa nos alertando para a síndrome da robotização humana que se agrava de forma proporcional ao avanço tecnológico moderno. O professor explica que a tendência atual de tecnocratização da atividade mental representa um perigo à nossa autonomia, ao nosso poder de controle da evolução de nossas inteligências. Segundo ele, o lema “contra a alienação eleve sua consciência” já não faz sentido nos dias de hoje em que pouco se estimula a consciência, o aprofundamento do conhecimento, e muito se fala sobre identidades.
Aprendemos que as identidades, como as de raça, etnia ou gênero, são formas de produzir uma condição estimada do ser no mundo, muito aproveitadas como armas políticas. O antropólogo propõe a consciência da pluralidade dessas identidades como uma alternativa de conseguir a legitimidade tão desejada por nós sem estar alienado. “Despertar a consciência é uma chamada filosófica” afirma Júlio. Compreendemos que desenvolver a consciência é um exercício de reflexão e de questionamento sobre quem somos e o que representamos no mundo.
O professor nos sugere o confrontar. A ação assertiva em contraposição à blindagem de nossa consciência crítica. Ele nos alerta que a identidade pode operar como elemento de estagnação, contrário à dinâmica da transformação e da superação. Como exemplo, citou a naturalização do “jeitinho brasileiro” que, segundo Júlio, é um aspecto sociológico que deve ser superado em função da evolução.
“Temos que pensar a complexidade de toda trama que produz e reproduz o poder”, garante o antropólogo. E o poder, como ele nos explicou, é uma questão de injustiça e de consciência. O que podemos entender, por fim, é que se queremos ser e fazer parte de fato de algo é preciso consciência do que é ter uma identidade.
Após a aula consciente de Júlio Tavares, era hora dos Quebradeiros mostrarem que também se interessam e pesquisam sobre questões que envolvem o conceito de identidade. Bender Arruda apresentou sua pesquisa sobre Cultura e Identidade Nacional. O Quebradeiro falou um pouco sobre a identidade nacional na época do Estado Novo e usou diversas referências do cinema novo. Trechos do filme “Barlavento”, do diretor Glauber Rocha, auxiliaram Bender a destacar a ideia de que a identidade nacional é formada por quem mora nas cidades grandes. Bender questiona “Quem é o brasileiro?” e afirma que nem os estrangeiros e nem nós sabemos o que nossa identidade nacional representa. Para o Quebradeiro, muito da identidade brasileira é originado de rótulos construídos por estrangeiros. Ele defende que, ainda assim, estamos de costas para o continente, preocupados em olhar apenas para além do oceano, ou seja, para a Europa e Estados Unidos ao invés de buscar nossa verdadeira identidade.
A quebradeira Marilia Lopes fechou a tarde falando sobre Educação popular para a promoção da igualdade racial. Marilia trabalha na ONG “Se essa rua fosse minha” e lá desenvolve um trabalho baseado na lei 10.639, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira em escolas de ensino fundamental e médio. O projeto pretende valorizar a cultura africana e indígena através de cirandas que exploram as linguagens da dança popular brasileira, do teatro de rua, da arte circense e de muitos outros segmentos artísticos. A quebradeira aposta que é na cultura popular e nas verdadeiras trocas de conhecimento que está o vigor do saber. E por fim, destaca a importância da educação na promoção da igualdade racial.
Texto: Camila Romana – bolsista PIBEX 2011