Entrevista com Janaina Tavares uma das fundadoras do Sarau V que acontece em Nova Iguaçu na Praça dos Direitos Humanos.
O sarau V teve sua primeira edição em Agosto de 2013 e dialoga com outras experimentações artísticas além da poesia. Tem pocket show e até roda de conversas a cada edição, onde já se discutiu, por exemplo, a legalização da maconha e a desmilitarização. Sua próxima edição será no dia 18/07/14 e coloca em debate: “o futebol é alienador?”
O sarau é evento cultural que “pode envolver dança, poesia, leitura de livros música e também outras formas de arte como pintura e teatro, e comidas típicas. Evento bastante comum no século XIX que vem sendo redescoberto por seu caráter de inovação, descontração e satisfação.” (fonte: Wikipédia).
No Rio de Janeiro, desde as manifestações de Junho de 2013, os saraus têm sido um evento de forte experimentação artística e de ocupação dos locais públicos.
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Por Felipe Boaventura
UQ – Como surgiu o Sarau V?
JT – O Sarau V surge a partir da minha vivência no Sarau Apafunk que acontece na Cinelândia toda segunda quinta do mês. E nesse meio tempo, percebi uma lacuna, e uma necessidade de se fazer um sarau no meu território que dialogasse com nossas especificidades, demandas, juventude e subjetividades. Já na segunda edição experimentamos um recorte diferenciado dos outros saraus que conhecíamos, e incluímos a parte do bate-papo, que tem como objetivo fazer um trabalho de base. É como se fosse o momento do “vamos falar sério? Mandar o papo reto?”
UQ- Como funciona o Sarau?
JT – Existe uma programação que seguimos e só muda se acontece algum imprevisto. Tem a abertura, em que aproximamos e nos comunicamos com a galera. Depois o microfone aberto: qualquer um que queira falar, ler, cantar, declamar só chegar e pegar o microfone. Depois rola o bate-papo, e por fim o pocket show que fecha o V.
UQ- Quais são as experiências artísticas que acontecem no Sarau V? Só poesia?
JT – Acontece todo tipo de experiência artística. Já rolou intervenção teatral, feminista, de palhaçaria, grupo de funk, rap, jazz, Maracatu, cineclube, além dos bate-papos, o que eu acredito, trazem o diferencial e um caráter mais político para o Sarau V. Já discutimos sobre Legalização da Maconha, Desmilitarização da PM, Carnaval de Rua, Censura e o próximo será sobre Futebol.
UQ – Quem são as pessoas que organizam?
JT – Eu, Gabriel Ferrão e Mateus Carvalho.
UQ – Quais são os recursos e da onde eles vem?
JT – Tudo que precisamos para realizar cada Edição tiramos do nosso bolso. Mas já vendemos ou rifamos camisas com a logo do Sarau V.
UQ – Há quanto tempo e onde rola o Sarau V?
JT – Completa um ano em Agosto e rola toda terceira sexta-feira do mês, na Praça dos Direitos Humanos em Nova Iguaçu.
UQ – Qual é a duração de um sarau?
JT – O Sarau V dura em torno de cinco horas. Geralmente termina às 23h por causa do pessoal que pega busão pra casa.
UQ – No Rio, uma das respostas a violência policial foi a ocupação artísticas de espaços públicos. Como você analisa essas ocupações e quais são as diferenças e semelhanças entre elas e outras ocupações em geral.
JT – Amir Hadad disse em uma aula na UQ que: “o futuro é dos espaços públicos.” E não tenho dúvida disso. A rua é o espaço mais democrático que existe. Todos passam por ali sem exceção. E ocupar esses espaços com a arte é a melhor maneira de se chegar a todo tipo de público.
UQ – Quais são os planos para o Sarau V? O que vem por aí?
JT – A ideia é circular o Sarau V por todos os espaços públicos possíveis de Nova Iguaçu. Pra isso é preciso de mais base, fortalecer as redes já construídas e construir novas redes e conseguir recursos. Ainda não sabemos se com doações, campanha ou editais, nos manteremos a longo prazo. Já experimentamos um outro espaço na oitava edição que aconteceu na Praça do Skate, a primeira da América Latina. Ela possui um público frequentador muito discriminado e isolado. São os roqueiros, skatistas, gays, os meninos que mandam rima, e chegamos, tocamos de rock a funk, declamamos poesia e rolou uma intervenção feminista sobre “cantada”, contamos com a apresentação do Senhor Palhaço, formado pela Escola de Circo e uma Ciranda no final. Foi inusitado para todos eles e também para nós. No início ficamos com receio de não nos receberem bem e no final devia ter umas 200 pessoas em volta.
UQ -Cite alguns escritores e/ou artistas de Nova Iguaçu e baixada que frequentam o Sarau V.
JT – Ivone Landin, Marcio Rufino, Moduan Matus, Camila Senna e muitos outros já passaram por lá
MINI BIO de Janaina Tavares
Estudante de Letras-Espanhol na UFRRJ de Nova Iguaçu, 22 anos, moradora da Baixada, lidera o Sarau V – Na rua se respira poesia. Escreve. Já passou pela Universidade das Quebradas. É estagiária da Agência de Redes para Juventude.