[1ª parte]
A Baixada nas telas. Nos poros. Na boca. No peito. Guardamos cansaço, agitação e madrugadas nas olheiras do tempo.Descansamos os ouvidos e escutamos com carinho a experiência do fazer. Pipoca e Guaraná Natural. Os verdadeiros permanecem do seu lado. E o que transforma, sobrevive ao caos. Que as estrelas que se desprendem do céu e iluminam nosso chão, não cortem nossos pés nesta longa caminhada. É sempre o porvir. Converso com eles como se fosse um reencontro. Me sinto em casa, no sofá e nas buscas. É o pertencimento tão falado nas Academias e pouco vivido. Mas nós nos sentimos pertencidos. E não arredamos os pés daqui. E nessa rede de encontros, conexões e sonhos, as lágrimas nos olhos lavam toda a tristeza e pessimismo. Existe algo além. Somos mais. E não estamos sozinhos. Nunca pensei viver um momento como esse. E nunca saberei como agradecer a Luana Pinheiro e ao Diego Bion pela oportunidade de não só estar no ODEON, mas de estar representando as incríveis mulheres poetas de nossa cidade. De me sentir acolhida e reafirmar convicções e vontades. De sentir a solidariedade dos amigos. Estaturas tão pequenas e tanta força e persistência. ‘Faça você mesmo’. Autonomia. Dignidade. O novo que traz esse gás, essa esperança, a ação, o sorriso estampado, as improvisações, a leveza. Vida longa aos Movimentos Culturais da Baixada. Vida longa ao Cineclube Buraco Do Getúlio!
[2ª parte]
Estamos aqui. Não pense que por não poder estar em outro lugar. Podemos ocupar todos os espaços que quisermos dos campos à Academia. Estamos aqui porque não sabemos como estar do outro lado, o lado contrário de nossos buracos, subjetividades, túneis, porões e praças. Estar aqui é saber que não há espaço para vaidades e mentiras. Construções de castelos em cima do barraco na beira do rio. É incoerente e injusto, cantar algo que não se vive, escrever sobre o que não se sente. Repito, estamos aqui, quer queiram ou não. Tantos antes emudecidos reaprenderam a falar e por si mesmos. Estamos aqui. E somos a vendedora de vestido de noiva. O dono antipático do bar. A ambulante Francisca que gosta de Carlos Drummond. O gari. A diarista. O catador de papelão. Catamos restos. E sonhos. Estamos aqui fora. Nas ruas. De sol a sol. E por mais que estejamos agora, dentro das Academias, sendo falados por bocas com hálito de enxaguante bucal, somos sujos, fedidos, incomodamos e assustamos. Não por “feiura”, mas por grandeza e atitude. É o corte na alma. As passarelas. A panfletagem. A pirataria. E não a sala de aula com ar-condicionado. Os protagonistas agora são dos altos, dos morros e das baixas, de agudo às santas. ‘Caminhar juntos?’ Sim, mas que seja além dessa Literatura Comparada. Que seja debaixo do sol, que seja na rua, no vivenciar. Estamos aqui e não iremos embora. Porque viemos no mínimo pra incomodar.
Janaína Tavares é quebradeira da 4a edição da UQ