Thuram, zagueiro que parou o Brasil na final da Copa de 1998, se choca com prisão de ator negro
Rio – Campeão da Copa da França em 1998, batendo o Brasil na final, e ativista pelos direitos dos negros, o ex-zagueiro francês Lilian Thuram ficou chocado ontem ao saber que o Brasil ainda sofre casos de racismo como o que vitimou o ator Vinícius Romão, preso por 15 dias ao ser confundido com um ladrão.
Thuram, no Rio para uma semana de palestras contra o racismo, não acreditou ao saber sobre o fato durante encontro no Museu de Arte do Rio (MAR) com estudantes da Universidade das Quebradas — um curso de extensão da UFRJ.
“Isto aconteceu aqui no Brasil?”, indagou, espantado com a tradução que ouvia e a imagem que tinha de um país multiétnico. “Então o Brasil ainda sofre um grande problema com racismo, mesmo com a libertação dos escravos há mais de cem anos”, continuou.
Thuram fala durante a palestra sobre o racismo para estudantes da Universidade das Quebradas, curso da da UFRJ que aconteceu no MAR
Thuram relembrou a primeira vez em que se sentiu vítima de preconceito, ao receber o apelido de uma vaca popular na TV francesa, quando tinha 8 anos — ele nasceu em Guadalupe, ilha caribenha colonizada pela França. “Era um desenho animado com duas vacas. A branca era esperta e a negra, burra. Meus colegas de escola me apelidaram com o nome da vaca negra.”
Para ele, há diversas armadilhas racistas no dia a dia das pessoas. “As pessoas criaram um conceito que homens negros são mais fortes que os brancos. Esta é uma forma de segregar, uma afirmação de que o branco possui força intelectual.”Em 2008, Thuram inaugurou a ‘Foundation Lilian Thuram — Éducation contre le Racisme’, que procura disseminar a igualdade étnica, através da Educação Infantil. Esta mesma fundação o trouxe ao Brasil.
Campeão do Mundo contra o Brasil
Nascido em Guadalupe, ex-colônia francesa, Lilian Thuram esteve em campo na final em que o Brasil perdeu a Copa de 1998 para a França de Zidane & Cia. Zagueiro dono de boa técnica, foi ainda campeão da Eurocopa de 2000 e vice mundial em 2006, quando a Itália conquistou o título. O zagueiro atuou por Monaco, Parma, Juventus e Barcelona antes de encerrar a carreira em 2008, aos 36 anos, após exames detectarem problemas cardíacos.
Palestras na Gamboa e no Alemão
Lilian Thuram está no Brasil para uma série de palestras sobre o racismo, tema recorrente na luta que decidiu empreender ao pendurar as chuteiras. Em 2008 criou a Foundation Lilian Thuram — Educação Contra o Racismo.
Nesta quarta-feira, o craque irá ao Caju falar com alunos e professores do Ginásio Olímpico Félix Mielli Venerando. Depois fará nova palestra no Museu de Arte do Rio. O périplo contra o racismo segue amanhã, no Circuito de Herança Africana, na Gamboa, e no Ciep Governador Leonel Brizola, em Niterói. Na sexta ele participa da cerimônia de entrega do prêmio para alunos e professores das escolas municipais, e sábado irá ao Alemão.
Tassia de Carvalho é quebradeira da 4a turma e repórter do jornal o Dia