“Uma formatura estranha, que não é um final”. Com essas palavras, Numa Ciro ilustra a cerimônia de formatura da turma de quebradeiros 2011. Diferente das outras universidades, que formam profissionais em determinada área, a Universidade das Quebradas aperfeiçoa os alunos, que já entram no curso sabendo muito, porque nasceram quebradeiros e sempre o serão. E assim, nas trajetórias da vida, os quebradeiros se unem para dividir conhecimentos e expressar a sua arte, pois, como também já disse Numa, “onde tem cultura, tem quebradeiro”.
Alegrias, emoções, homenagens e saudades… o dia 13 de dezembro foi marcante e digno de lembranças muito carinhosas. E foi com um minuto de silêncio em homenagem a Abdias e a audição do hino nacional na versão ‘Funk Favela’ que essa festa começou. Os palhaços Animanick e Liquid Paper comandaram a cerimônia em clima descontraído, típico das quebradas. Tudo isso, sem falar na decoração do local, uma explosão de luzes e cores que garantiram uma cerimônia ‘purpurinada’!
Uma comissão de honra cobriu a UQ e seus estudantes de elogios. Dentre eles, Paulo Bennett, Paul, Eliane Costa da Petrobras, Heloisa Buarque, a Secretaria da Cultura, Beá Meira, Conceição Evaristo, Silvia Ramos representando Numa Ciro, além de Amara Rocha, ambas presentes de coração.
Quanto às homenagens, essas foram muitas. Beá Meira foi a primeira, eleita professora homenageada pela turma do CBAE. “Sou muito motivada a participar do projeto. Todos os dias que vou ao CBAE ou Manguinhos, eu vou morrendo de vontade!”, afirmou a Beá, emocionada. A mesma homenagem foi prestada a Amara Rocha pela turma de Manguinhos. Quanto aos quebradeiros, Alexandre Terto, da CBAE, e Irani, de Manguinhos, também receberam uma menção honrosa por suas turmas.
E por último e muito importante foi a homenagem à nossa querida Rô, em um poema recitado por Feijah’N.
Veja o texto:
Mulher…
Vestida da tua própria cor que é vida
De tua forma que é beleza
Cresci a tua sombra,
Tendo a tua melanina ou não
Correndo em minha grossas e veias finas
Teu sangue, tua garra me fascina
Me põem pra cima
Mas eis que no auge de cada verão
No clima ‘caliente’ da emoção da estação nos sentimos mais teus
Te descobrimos
Terra prometida, mulher!
A tua beleza de grande figura humana
Nos encanta
E atinge em cheio nossos corações
Com um golpe certeiro
De uma águia fêmea
Fruto sazonado de uma carne vigorosa
Estase de vinho ébano
Boca que faz lira à minha boca
Savana de horizontes que não engana
Pura expressão de um ser
Mulher nua, crua, negra
Nós cantamos e contamos a tua bela paisagem na passagem
Para fixá-la eternamente na mente
Antes que o zelo do destino te reduza
Em cinzas para novamente alimentar a vida de outra forma
As raízes de outras UQs, ou quem sabe lá o que?!
Belos são os que te dizem,
Rose, Rosa, Rosangela,
Rocha mulher, Ro!
Todos os quebradeiros receberam seus diplomas e três projetos finais foram premiados: em terceiro lugar empatados, ‘Adote um livro’, de Andressa de Souza, e ‘Pontilhão’, de Jeane Lima; em segundo lugar, ‘Oficina de Fanzine’, de Felipe Araújo; e em primeiríssimo lugar, ‘Cine de Buteco’, de Letícia Freitas. Parabenizamos aos quatro quebradeiros por mais essa conquista e também aos demais pelos projetos maravilhosos que entregaram.
A cerimônia deu lugar às apresentações dos quebradeiros. Foi um verdadeiro espetáculo de música, dança e poesia. Na dança, o grupo de dança Afro coordenado por Eliete Miranda, Jeane Oliveira com ‘Loading’, e o grupo de dança de Bob Cunha emocionaram a platéia. Na poesia, Tom Oliveira, Felipe Araújo, Rosalina Brito, Joana d’Arc, Poeta Xandu, Graça Carpes e Tetsuo Takita arrasaram! Na performance teatral, destacaram-se William Santiago e Thati Mendonça, ‘Reclik’ (Hare e Noelia), Leandro da Hora e Sergio Teles, Marcelo de Almeida, Haroldo Cesar, Anick Lorena, e as ‘Amas de leite’ (lindas!). Nas projeções, Jussara Santos, Emilio da Silva, Anick Lorena e Anderson Clayton brilharam. E na música, Renato Coelho, Igor Pinheiro, Pretto, Negrosoul (Flavia e Fabiana Souza), Feijah’N, Tom de Oliveira e Khefhren Motta levantaram a galera.
Leia e ouça o Manifesto UQ, de Bender Arruda. Em seguida, confira fotos da sua instalação.
MANIFESTO UQ
Essa mostra pretende mostrar um pouco do caráter urbano e social do Carioca e de quem vive aqui. A RUA é o ambiente onde as relações sociais e os corpos se esbarram, tocam-se e as relações boas podem ficam ásperas. Há encontro e desencontro. Lugar de descanso. A expansão da rua são as palavras. A memória. A gaveta dos guardados.
Essa mostra representa aqueles que são parte da cidade e estão fundidos nela, ou que se descolaram dela. Falo destes que não tem um envolvimento passageiro. Quem faz parte da corrente sanguínea da cidade. Que é afetado(a) por ela e como anticorpo a afeta.
Como de praxe em um grupo tão rico e heterogêneo como as quebradas, o evento acabou em samba, comida e bebida gelada. E para garantir a animação, Cristina Hare e Denise Kosta trouxeram o Samba Enredo da UQ. Todos cantaram, dançaram, comeram e beberam. E mais um ano se encerrou nas Universidade das Quebradas. Um ano de erros e acertos, de aprendizado, de amizades, de cultura e de arte. Um ano mágico dentro dessa escola de sonhos. Mas vamos continuar a sonhar, e cada vez mais viver esses sonhos. Porque somos quebradeiros e, onde estivermos, poderemos quebrar tudo, juntos!
Texto: Cibele Reschke de Borba, bolsista PIBEX 2011