E quem foi que disse que o mundo do rap só tem homem? A quebradeira Flavia Souza está aqui para nos contar o contrário. Depois de muitos obstáculos na sua vida pessoal e profissional, Flavia transformou a dor em rima e hoje ela manda seu recado. Ativista social, membro da Associação de Mulheres Negras Aqualtune, a quebradeira conta um pouco da sua história.
De onde veio seu amor pela música? Por que rap?
Bom, desde menina sempre quis fazer parte do meio artístico. Com a violência doméstica em casa, comecei a escrever músicas relacionadas à violência contra a mulher e assim nasceu esta paixão pela musica de várias maneiras. Adoro cantar.Como é cantar com sua irmã?
É ótimo, sempre fomos muito unidas e passamos pelos mesmos problemas juntas.Você compõe suas músicas? O que te inspira?
Sim, existem vários temas que me inspiram: exclusão social, violência contra mulher, machismo, exclusão racial. Estes são os temas que me inspiram escrever, mas se me derem um tema, também faço.Como é o papel da mulher no mundo do rap?
Nosso papel é lutar pelos nossos direito e denunciar as injustiças de gênero.Qual a maior dificuldade que passou na música?
Passo até os dias de hoje, de subir nos palcos e cantar, pois há muito machismo, de gravar um CD e de ter alguém para produzir e correr atrás, pois é um espaço muito competitivo.Que conselho daria a rappers iniciantes?
Sempre tenha um tema, não perca tempo escrevendo besteira e não desista, mesmo que possa parecer impossível, tudo pode acontecer.O que faz como ativista feminina? Por que resolveu lutar por essa causa?
Fazemos diversos ciclos de debates, palestras, oficinas de dança, orientação social, sexual, dos direitos humanos e da mulher, pois somos uma equipe de várias mulheres, no qual cada uma tem a sua função. E gosto muito de lutar pela causa, pois muitas mulheres negras têm baixa estima por não se conhecerem, por se acharem feias, pobres, etc. e nós do Aqualtune levamos o conhecimento e possibilidades de empoderamento da mulher negra.Você vai defender um trabalho acadêmico este mês? Sobre o quê? Onde e quando?
Meu memorial é sobre danças de matrizes africanas e seu papel social. Sobre o espetáculo que montei “o segredo da raiz”. Estamos marcando para fim de março ou inicio de abril, vou mandar um convite.Como conheceu/chegou nas Quebradas?
Faço parte da Companhia Folclórica do Rio – UFRJ e eles falaram para todos nós tentarmos, pois seria muito bom. Eu tentei e fiquei.Como a Universidade das Quebradas influenciou sua vida pessoal e profissional?
Nossa, é difícil falar porque quando entrei só estava em busca de abrir meu horizonte e ampliar meu leque de sabedoria já que vim de um ensino médio muito ruim. Foi muito prazeroso e construtivo para meu crescimento fazer a troca que tivemos na UQ, até que entrei numa fase de começar a escrever minha monografia e estava sem orientador e com vergonha de falar que não sabia nem como começar. Então, pedi ajuda a professora Amara de Souza. Pensei que ela iria só olhar, me explicar e depois sumir. Mas ela se dedicou, nos comunicávamos sempre por e-mail e na UQ ela abriu meu horizonte, me ensinou e foi muito mais que uma simples orientação. Para mim, a perda dela foi muito chocante, pois não sabia da gravidade da sua doença, pois ela não transparecia isso e não esperava mesmo. Se hoje escrevo minimamente melhor devo muito a ela que com paciência me ajudou, me dava dicas, me ensinava com muita paciência e até puxões de orelha me dava, mas sempre com muito carinho. Às vezes, me emociono com a perda dela. Gostaria que ela estivesse aqui para ver como ficou meu trabalho, como evolui, neste exato momento, estou me debulhando em lagrimas, pois ela pensava em me ajudar a publicar meu trabalho já que fala da lei 10639-03 através das danças de matrizes africanas. Muita coisa eu perdi quando ela se foi, pois ela era minha esperança e inspiração.
Por Mariana Mauro (Bolsista Pibex – ECO/UFRJ)
14/03/2013