“Os comentários deram lugar a anedotas. As anedotas deram lugar a insinuações. As insinuações transmutaram-se em discursos de rancor.”
Felipe Boaventura.
Em sua última aula desta edição, Sandra expôs um texto intitulado “Sobre a inveja” e iniciou os trabalhos na sala das quebradas com a seguinte pergunta: O que nós temos a dizer sobre este texto? À medida que os alunos faziam a leitura, interpretando e percebendo características da forma textual, levantaram-se as questões presentes em cada parágrafo. A partir das percepções, eles arriscaram alguns autores, na tentativa de adivinhar o que até então estava anônimo. O autor do texto não era Luis Fernando Veríssimo, e sim de um aluno que integra esta 4ª edição, o escritor Felipe Boaventura.
As questões implícitas no texto foram sendo desvendadas. O preconceito e o conflito entre as diferenças, os pontos de vista que se constroem sobre cada cultura e como seria estar na pele do outro para nos observarmos. Segundo Sandra, você pode odiar a diferença ou deseja-la. O que acontece com as pessoas que estão nos dois lados?
Um quebradeiro disse: É uma crônica! Outro perguntou: Pode ser uma parábola? E ainda outro: Parece uma obra de engenharia. Sim, Sandra falava deste gênero tão engenhoso, a crônica. E afirmou que sim, pode ser parábola.
“…história que nos ensinam(…) grandes imagens, argumentos em cima de uma analogia. Um gênero difuso que pode ser qualquer coisa, inclusive parábola. Pode ser qualquer coisa.”
As reflexões sobre a concepção de uma crônica não pararam, continuou a professora “É uma construção, à medida que ela vai se tornando conveniente, as anedotas viram situações.” A crônica é o que produzimos todo o dia, é o cotidiano e nele está um mote para a criação textual. Entretanto há uma ironia direta ou indireta das anedotas factuais que se configura a vida. Deve-se atentar para uma tendência importante nesta fabulação; a metáfora. Recurso freqüente utilizado pelos cronistas para apontar as contradições humanas. Mostrar que transmitimos pensamentos que colaboram para vigorar os preconceitos socioculturais.
Alguém pergunta: Este texto pode ser classificado como realismo fantástico? Sandra responde que, se considerarmos a utopia que ela propõe, sim. Porque utopia não é apenas um lugar imaginário melhor, é um lugar que não existe.
No entanto, a crônica é um gênero hibrido. Para Sandra, os veículos que a circulam (folhetim jornais, sites) e os tipos abrangentes de cenários, sejam de cunho político, social, policial e econômico apontam para esta indefinição. As possibilidades não se esgotam no que diz respeito à crônica. Tudo é influenciado pelo noticiário, pois tudo é movido pela convivência da coisa diária. E o autor se aproveita disso.
Sandra questionou a turma: De onde fala o cronista? A crônica é um gênero urbano? É preciso entender que nem sempre se escreve na cidade e sobre a cidade, mas ela é essencialmente urbana, não se pode negar que tenha a ver com cidade, pois retrata assuntos peculiares a ela, já que surge oficialmente com os folhetins.
João do Rio, que viveu em Ipanema no inicio do século XX, é um exemplo de cronista que transitou por todos os lugares da cidade do Rio de Janeiro. Machado de Assis publicava suas crônicas nos folhetins da imprensa Império/República. O cronista muitas vezes é aquele que se apresenta em primeira pessoa e tem suas intenções ao praticar isto.
Depois a professora falou que algumas crônicas são verdadeiros manifestos. E depois de sugerir a leitura do manifesto comunista, passou a distribuir uma série de manifestos como o futuriata de Marinetti, o Antropófago de Oswald de Andrade, entre outros. Falou que os manifestos que foram construídos ao longo da história, rompendo os modelos tradicionais de expressão. As expressões podem aparecer soltas, como gritos de guerra, neste tipo de texto.
A aula encerrou com uma atividade proposta pela turma da cartografia: Todo mundo escreveu uma frase para compor um manifesto quebradeiro que será lançado ao MAR.
Referencias
RIO, João do. Religiões do Rio.
_____A alma encantada das ruas.
_____ Os tatuadores.
ASSIS, Machado de. Crônicas.
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=58
Músicas
– Em busca da Guanabara, de Moacyr Luz, Aldir Blanco e Paulo César Pinheiro.
– Em busca da Justiça, de Aldir Blanc.
Os Manifestos
Manifesto Comunista, de Karl Marx e Angels. 1848.
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/manifestocomunista.pdf
Manifesto Futurista, de Marinetti. Paris, 1909.
Manifesto DADÁ, de Tristan Tzara, 1918.
Manifesto da Poesia Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, 1924.
_______O Manifesto Antropófago, 1928.
Manifesto Verde-Amarelo, 1929.
Manifesto Regionalista, Gilberto Freyre, 1926.
Manifesto Surrealista, de André Breton, 1924.
A poesia concreta: Um Manifesto. Revista ad arquitetura e decoração. São Paulo, 1956.
Manifesto Ruptura, de Lothar Charoux, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Féjer, Leopoldo Haar, Luiz Sacilotto e Anatol. São Paulo, 1952.
Manifesto da Antropofagia Periférica, de Sérgio Vaz. 2007.
Manifesto contra o homem de barriga “tanquinho”, de Nina Lemos. 2012.
Manifesto: pelo alienável direito ao ciúme, de Pedro Chagas Freitas. 2011.
O carioca é. Antes de tudo, de Millôr Fernandes. 1978.
E agora, José?, de José Saramago. A bagagem do viajante, 1996.
Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ