O encontro do dia 4 de junho abordou o tema da música erudita, procurando evidenciar que tudo é construção histórica: o que hoje é clássico, talvez tenha sido popular um dia. Tivemos como fio condutor a forma-sonata, sua gênese e sua consolidação como formato central na música sinfônica. Por fim, trabalhamos o mito da sala de concerto como espaço elitizado e inacessível. Monique Andries, nossa convidada, professora de Arte Educação e vice-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, é bacharel em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e licenciada em Educação Artística pelo Conservatório Brasileiro de Música – Centro Universitário. Foi professora da Educação Básica por dez anos, antes de ingressar na docência superior.
Tivemos um encontro desmistificador sobre a música erudita, em que não só conversamos, mas também ouvimos Villa Lobos e Beethoven, já que “falar de música sem escutar é muito chato”. A artista e professora inicia sua fala problematizando o fato deste estilo musical aparentemente estar tão distante de nós, abordando os aspectos sociais e políticos desde os primórdios da musica até os dias de hoje. Quem levar? Que roupa usar? Como me comportar? Foram alguns dos questionamentos levantados.
A música, explica Monique, sempre esteve presente nos grupos humanos, dos mais antigos aos mais modernos, destacando a produção musical como uma das características que compõe o acervo cultural de determinado grupo. Ela traz a fala de um dos pensadores gregos antigos, Aristóteles que afirma que o ensino da música deveria formar o amador esclarecido, poderíamos dizer hoje; bons ouvintes. Ela chamou a atenção para este episódio, destacando que naquela época já havia uma diferença de escuta da música. Se Aristóteles se preocupa em destacar o ensino da musica para um bom ouvinte é porque existia um mau ouvinte, na sua concepção.
Depois ela dá um salto para a idade média, onde a separação de estilos musicais começa a ficar mais evidente, quando temos a música tocada dentro dos castelos, que tem autoria e é apreciada e composta apenas para uma elite, e a música de fora do castelo, que permanece na sua grande maioria sem autoria, no anonimato. Ela aponta que desde este tempo, mesmo com a separação gritante, os dois estilos acabavam buscando inspiração em suas diferenças.
Monique explica que nos dias de hoje, a separação dos estilos musicais, do público que vai assistí-los e dos locais que cada um se apropria, são construções históricas, ou seja, que não é algo natural, e que “se foi construído, pode ser descontruído” nas palavras da professora. A separação entre erudito e popular é cercada de preconceitos dos dois lados. Porém, ela aponta para o fato da falta de acesso a música erudita. Como apreciar ou gostar de uma música que você não reconhece?
De certa forma, temos acesso à música popular, que toca em rádios, em casas de shows e bares. A música erudita é mais restrita, mas não precisa ser. Monique destaca que não é preciso um conhecimento musical “super desenvolvido” para apreciá-la, apenas acesso e costume. A educação entra neste contexto para trazer para as pessoas hábito da escuta musical, que permite ao sujeito acesso e possibilita a apreciação além do seu gosto já construído, novos estilos musicais.
No último momento da aula, a professora explicou quando é hora aplaudir uma apresentação da forma sonata. Ela nos explicou que existem três tipos de composições que caracterizam a forma sonata, concebida no segunda metade do século XVIII, na Europa: a sonata, composição para um ou dois instrumentos; a sinfonia, música composta para uma orquestra e o concerto, quando uma composição para orquestra, contém um solo para um instrumento específico. As peças são composta de três movimentos ou mais, onde se intercalam andamentos diferentes. Indo de um ritmo mais acelerado para um mais lento, o músico ou músicos, precisam de um tempo para respirar e se concentrar para o próximo movimento, nesta hora não se deve bater palma. Apenas no final de todos os movimentos é que devemos ovacionar.
Para saber que momentos aplaudir, podemos procurar os sinais descritos no programa do concerto ou evento.
Uma tarde bastante agradável e de muito aprendizado e desmistificação. Vimos que não há mistérios, apenas desconhecimentos com relação a música erudita. Percebemos que os espaços e as músicas devem ser apropriadas por nós, que não devemos nos prender aos estilos que já estamos acostumados e sempre devemos buscar novas formas de apreciação. E nas palavras de Monique que ecoa Adorno: “Gostamos do que a gente reconhece.” Por isso a importância de sempre conhecer algo novo.
Breno Astur e Iris Medeiros