A rua Guinesa era o point no carnaval do Engenho de Dentro, só perdia para o carnaval da Chave de Ouro, do outro lado do bairro.
Muitos blocos desfilando. O Garrafal, verde e branco, arrastava a galera animada, que vinha atrás, gritando: “Lelêo Garrafal! Lelêo Garrafal!”
Os bate-bolas, no tempo em que bate-bolas tinham mesmo bola, feitas de bexiga de porco, fediam e assustavam a criançada.
Havia um grupo chamado Yamaha que, a cada ano, alucinava a plateia que esperava ansiosa pelo desenho de suas capas. Pois é. Eram mais de vinte bate-bolas, alinhadíssimos, que invadiam a rua no domingo de carnaval com suas capas bordadas com desenhos incríveis e impecáveis. Num ritual, vinham todos enfileirados, com as capas enroladas de modo que não se podia ver nada, a não ser o avesso negro delas. Numa coreografia ensaiada, todos ao mesmo tempo as abriam como asas e revelavam, para admiração e aplauso geral, o tema do desenho daquele ano.
O sonho das meninas era namorar um clóvis desses da Yamaha, porque era de praxe o bate-bola colocar a capa nas costas da sua escolhida, que desfilaria pela rua.
Tinha ainda uns bonecos gigantes, tipo os que até hoje se vê no carnaval de Olinda, que circulavam pelo bairro durante o dia e que as pessoas chamavam de bonecos do Germano. Penso que o Germano devia ser o criador dos tais bonecos, e não me espantaria se descobrisse que ele era um Pernambucano tentando relembrar a tradição da sua terra.
Nesse tempo, era comum achar guizos no chão, caídos de alguma fantasia. Quase todo mundo ia fantasiado para rua.
Meus pais sempre nos levavam ao Centro da cidade durante o dia, para ver os carros alegóricos e os blocos Bafo da Onça e Cacique de Ramos desfilarem.
Com um saquinho feito de filó cheio de confetes e uma garrafinha de espirrar água na mão, íamos as três de sarongue, fantasia que não se conhece mais. Algo parecido com uma havaiana de saia curta.
A gente ia para ver também os carros alegóricos que ficavam estacionados na rua depois do desfile, que na época eram na Praça Onze.
Eu amo carnaval! Eu amo carnaval. Caio nos blocos desfilo em escolas de samba e basta ouvir um batuque, para pensar que é meu coração!
por Cristina Hare
Arte: Beá Meira