Na aula da última terça-feira, 19 de março, os quebradeiros receberam o diretor artístico Antônio Guedes para falar sobre Texto e Encenação. Fundador da Companhia Teatro do Pequeno Gesto, Antônio trouxe para as Quebradas um pouco da proposta do grupo teatral e dos conceitos que formam a dramaturgia.
Para abrir a aula, o convidado leu uma pequena crítica de teatro escrita por Marcus Faustini, que, para surpresa de Guedes, é conselheiro da Universidade das Quebradas. Começando com o pé direito, o diretor aproveitou o texto para enfatizar que a cidade, as pessoas e o cotidiano são discutidos de outras formas, além da palavra. E a dramaturgia?
Voltando no tempo, o diretor explicou que, até dois séculos atrás, o teatro era visto como o lugar do texto e o ator era somente um veículo de expressão das palavras do autor. As peças não eram propriamente interpretadas, mas recitadas.
Apenas em meados do século XIX surgiram os primeiros encenadores, que criticavam a falta de envolvimento dos atores com o texto e os personagens, além do inexistente envolvimento do público com o teatro. A partir dessas novas ideias, a montagem de um espetáculo passou a incluir a preocupação com o figurino, o cenário e o lugar do artista no palco.
Para exemplificar, Antônio citou o texto O ator e a Super-marionete, de Gordon Craig, que defende a colocação do ator como um fantoche pensante em relação ao texto. Mesmo conduzido pelas palavras, o artista precisa ter consciência de que elas não foram feitas apenas para o intelecto, mas para os sentidos como um todo.
As obras produzidas para o teatro não podem ser apenas recitadas, como os romances ou as poesias. Elas são incompletas, pois algumas vezes só podem ser compreensíveis no palco. Um texto não é nada sem o cenário, o figurino, a iluminação, a trilha sonora, os gritos e os movimentos do ator.
Entre citações de Antonin Artaud (1896 – 1948) e Valere Novarina (1947-), o convidado debateu o teatro contemporâneo como o período – atual – em que a dramaturgia é desenvolvida para afetar o público. A linguagem articulada, os movimentos dos artistas e os objetos sobre o palco compõem, com a mesma importância, a cena.
Os espectadores são trazidos para uma realidade como a do sonho. Da mesma maneira que um dragão que nos persegue num pesadelo, uma tragédia ou um drama deve ser capaz de impactar no “real do teatro”. Um espetáculo não é só assistido, é experienciado.
Nas artes tudo é possível, qualquer coisa é real. Como na pintura abstrata, o teatro não é dado, ele pede para ser decifrado. Depois da terceira campainha, abrem-se infinitas possibilidades.
Por Júlia de Marins – Bolsista PIBEX/ECO – 20 de março de 2013