O negro visto por diferentes olhares na literatura. Essa foi a abordagem do professor e escritor Joel Rufino, em sua aula na Universidade das Quebradas, terça, 18/10. O professor fez a distinção entre racismo e preconceito e afirmou que a sociedade brasileira não só é racista, mas também preconceituosa. E esse fator influencia diretamente a literatura.
Segundo Rufino, existem dois tipos de literatura com temática negra no Brasil: a literatura negra feita pelos não-negros e a feita pelos negros. Na primeira, a figura negra é estereotipada: a mulata sensual, o negro primitivo, descontrolado. Já na segunda, surgida no século XIX com Lima Barreto, os autores se colocam como sujeitos e podem também ser protagonistas das histórias.
Rufino apontou para um problema com muita sabedoria: “o negro precisa ter um ‘dispositivo’ para não sofrer com o preconceito, caso contrário, sofreria 24h por dia. Na literatura branca, o branco aparece como o ‘normal’ e não há necessidade de identificar que ele é branco. Mas, quando o personagem é negro, os autores sentem a necessidade de especificar a cor da pele e descrever o tipo físico. Além de ‘anormalizar’ o negro, eles também agregam a ele um estilo, sempre acompanhado por um adjetivo desqualificante”, afirmou.
Desmascarando o senso comum, o convidado da tarde também pregou que evitemos a vitimização do negro: “a escravização negra é um capítulo do capitalismo, da globalização. O negro que veio da África possuiu, de maneira equivalente ao branco europeu, uma estrutura organizacional e uma cultura que também participaram do processo de civilização do Brasil”, concluiu.
Texto: Cibele Reschke de Borba, bolsista PIBEX 2011
Foto: “esperando na janela 3” por SheilaTostes – CC BY 2.0