O que a história não conta sobre a cultura negra por Elisa Larkin

A África, o Brasil e o mundo foram o grande tema da aula de Elisa Larkin Nascimento, na última quinta-feira, no polo da Rocinha. Co-fundadora e atual diretora do Instituto de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Elisa falou sobre a riqueza das culturas de matriz africana, o racismo e os preconceitos que a história convencional criou e ainda perpetua em torno dos povos oriundos do continente mais subestimado do planeta.

A professora Elisa Larkin se emocionou ao descrever a personalidade determinada e ao mesmo tempo humilde do seu marido Abdias do Nascimento. Sua voz embargou, sua tez mudou de cor. Foi neste diapasão apaixonado que a sua aula transcorreu. Um discurso ágil, uma fala veloz para contemplar em pouco tempo os milhares de anos de contribuição do continente africano para o resto do mundo.

A convidada aproveitou o tema Mitologia Negra – sugerido para sua participação – para explicar a riqueza e a diversidade das populações africanas. O que muitos vêem como um continente generalizado, sem muitas peculiaridades culturais, na verdade constitui um conjunto de populações com religiões, crenças, tradições, costumes e sabedorias diferenciados.

No entanto, a visão do mundo em relação ao negro, herança da história eurocêntrica contada repetitivamente sobre a escravidão e a colonização, é de fraqueza e ignorância. Segunda Elisa, o erro começa quando se pensa no africano como escravo e não como escravizado. Nenhuma etnia nasceu escrava, apenas foi colocada nessa condição por um povo opressor que não criou o racismo, mas o manifestou pela primeira vez. Afinal, se já não existisse a discriminação racial, o que teria levado pessoas brancas a se sentirem no direito a escravizarem pessoas negras?

É impossível, pensar  em fragilidade das etnias africanas é já que a capacidade de organização e sobrevivência numa região com falta de recursos naturais exige, no mínimo, resistência e inteligência. Colocando o passado brasileiro como exemplo, apesar de subestimados intelectualmente, foram os negros escravizados que ensinaram as técnicas de agricultura aos brancos e ainda acompanharam os desenvolvimentos tecnológicos no campo. E, contudo, depois da Lei Áurea, os produtores de café trouxeram imigrantes europeus para trabalhar em suas fazendas porque os ex-escravos não eram capacitados para o trabalho? Uma grande contradição escondida pelos registros históricos.

Com Elisa aprendemos que os africanos devem ser vistos como povos ativos na civilização do mundo com sua cultura e avanços tecnológicos com imensas contribuições em todos os campos matemática, medicina, engenharia.

Tanto preconceito e subestimação castigam quem tem pele negra, pele que mostra a cor que, na verdade, todos nós temos. E é a desigualdade racial, ainda tão presente no Brasil, que causa sofrimento, mas que também sofre com a garra e a luta de pessoas como Abdias Nascimento.

Ativista brasileiro e defensor da cultura negra, Abdias foi o primeiro a desmentir a não existência de racismo no Brasil. Entre as contribuições que deixou, o Teatro Experimental do Negro (TEM) e o Ipeafro estimulam homens e mulheres negros a exigirem seus direitos de igualdade. Toda sua importância é eternizada ainda pelos valores de força, orgulho e humildade que ficaram de herança para a população negra brasileira.

 

Por Rute Casoy e Júlia de Marins – Bolsista PIBEX/ECO – 20 de abril de 2013