Alceu Amoroso Lima grita como um arauto: “No Brasil, o Romantismo ia surgir como expressão da independência nacional. A fase pré-romântica, ou de transição do Classicismo ao Romantismo, é a que se abre com a vinda da Família Real…” Esse brado retumbante vai nortear o nosso passo meio ao caminho, aos atalhos, às veredas. As palavras grifadas são placas de advertência aos pés das quais deveremos parar e refletir, como em uma via-sacra profana.
Ao afirmar que o caminhar romântico está adornado pela frágil ideia de independência nacional, portanto às lutas sociais, devemos alargar o maço temporal para que nele sejam empacotados todos os movimentos de libertação colonial a partir de 1789 cujo agudo é a Inconfidência Mineira (lembrem-se de Tiradentes esquartejado e seus cortes de carne dependurados nos postes da cidade do Rio de Janeiro até Minas). Esse fato por si só derruba o imaginário popular sobre o que é romântico.
Lembremos, também, dos dois polos intelectuais brasileiros do século dezenove: Recife e São Paulo com suas faculdades de direito, no seio das quais tudo foi pensado: filosofia e literatura, independência e morte. Será em seus corredores que vamos sentar à sombra para tentar entender os intrincados labirintos do romantismo brasileiro: revolucionário e telúrico, gracioso e cantante, mas será além de suas margens que estaremos de pupila acesa: deixaremos Gonçalves Dias (minha terra tem palmeiras), e José de Alencar (com os lábios não tão doces como o mel).
Deixaremos ainda Castro Alves (varrei os mares, tufão!) e Manuel Antonio de Almeida (nosso ancestral sargento de milícias). Fique também ao largo Álvares de Azevedo (ah, se eu morresse amanhã!) e Visconde de Taunay (santa Inocência, Batman!). Mas os deixaremos não com o intuito de soterrá-los com a terra pesada do descaso. Ficarão pois já devidamente consolidados. Tentaremos trazer Luís Gama, jovem de história interessante e literatura idem. Qorpo-Santo, nome tão estranho para estranha produção romântica, e Sousândrade nosso primeiro Guesa nas terras de Tio Sam.
O Romantismo é a escola literária do século XIX, mas também é no final do mesmo século, embora sob as asas de outra escola, que um tipo de literatura surge no Recife, aquele polo intelectual: o cordel brasileiro. Essa poesia concretizou-se na primeira emancipação literária verdadeira. Os rastros românticos entrarão por ela e culminarão em suas páginas para depois sofrerem a grande ruptura estética. Leandro Gomes de Barros será nosso último romântico e nosso primeiro moderno, monstro de escuridão e rutilância, como insistia Augusto dos Anjos.