“Ai do poeta se ele não for um fingidor.”
O professor, poeta e filósofo da arte libertária, sobretudo libertina, tropicalista, cineasta, lacaniano, inquieto, performático, escritor, experimentalista, o indócil Jomard Muniz de Britto fala de Pernambuco para o mundo.
A presença do poeta na Universidade das Quebradas, ou melhor, o atentado à Universidade das Quebradas provocou nos alunos muitas questões sobre o fazer poético. Primeiro, ele incitou os alunos a produzirem sons estranhos com a voz, em seguida fez a leitura do poema Zerando a Reza a partir de trechos inscritos em cartões-postais e depois a leitura adquiriu a intervenção dos quebradeiros, ou metamorfose poética da oração que se inicia assim:
Em nome do PAI ético,
Da MÃE estética,
Das FILHAS e FILHOS
De ZEUS,
ZOROASTRO,
ZUMBI.
Sua trajetória é intensa. Professor universitário, aposentado aos 27 anos pela ditadura militar. Autor do livro Contradições do Homem Brasileiro, considerado subversivo e retirado de circulação, pois estava vinculado ao trabalhado do educador e amigo Paulo Freire, o que causou sua detenção. Um dos criadores do manifesto tropicalista, junto com Torquato Neto, Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros, e produtor de diversas películas experimentais na bitola super8, Jomard afirma ser um co-autor de atentados poéticos, “– vivemos em busca de uma poeticidade”, diz.
Sobre as relações que nós temos com a escrita e sua estética, ele conclui que há matéria para todos os campos textuais, prosaicos, poéticos, filosóficos. Quando um dos alunos perguntou O Que é Poesia, Jomard respondeu: – “Eu não me assumo como poeta, porque quem diz que escreve poema, faz e pronto. Sou totalmente indócil com as lacanagens, é saudável pensar na mudança. “Poesia tem nome ou tem fome?”. Se considera um partidário da dúvida constante e acredita que na poesia vale tudo. Não curte neologismos. Raramente faz uso deste artifício, explica que as suas invenções são saídas e declara que ao invés do infinito, prefere o particípio presente.
Assim como as artes áudios-visuais tendem aos coletivos, o poeta também crê nessa ideia em se falando de arte contemporânea. Percebe-se principalmente a impossibilidade de encaixar/enquadrar uma obra de arte em apenas um movimento artístico, já que essa metalinguagem agora é vista numa translinguagem. Entretanto, o poeta se preocupa com o uso deliberado da internet pelos alunos nas escolas, o que levaria a disfuncionalidade das aulas dos professores, e faz uma crítica ao “instântaneísmo” desencadeado em nosso tempo.
Amém!, o último verso do poema Zerando a Reza é o triunfo do contra-discurso da oração, quando o poeta desemboca a intenção do trocadilho: – “Não digam Amém!, digam Amem! E mamem.” E nesta, usando a palavra do poeta, bricolagem, Jomard responde a pergunta no circuito das quebradas: O poeta é um fingidor? – “Ai do poeta se ele não for um fingidor”.
Referências
BRITTO, Jomard Muniz. Contradições do Homem Brasileiro, 1964.
Pesquisas:
Revista O grito!
Filmografia
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/cinema/index.cfm?fuseaction=detalhe&cd_verbete=5127
Citações:
GORZ, André. O socialismo difícil, 1968.
PERES, Urania Tourinho. Mosaico de Letras, 1999.
Filme: Era uma vez eu, Verônica. De Marcelo Gomes. (BRA, 2012)
Exposição Pernambuco experimental – Exposição em cartaz no Museu de Arte do Rio (MAR), de 10/12/2013 a 30/03/2014.
Making of Pernambuco Experimental
Rafaela Nogueira – Bolsista PIBEX PACC\UFRJ