A luta pela liberdade dos negros brasileiros jamais cessou. Em 1971, um significativo capítulo de nossa história vinha à tona pela ação de homens e mulheres do Grupo Palmares. Lá do Rio Grande do Sul era revelada a data do assassinato de Zumbi, um dos ícones da República de Palmares. Passados sete anos, ativistas negros reunidos em congresso do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial cunharam o 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Em 1978, era dado o passo que tornaria Zumbi dos Palmares um herói nacional, vinculado diretamente à resistência do povo negro.
Herdamos os propósitos de Luiza Mahin, Ganga Zumba e legiões de homens e mulheres negras que se rebelaram a um sistema de opressão. Lançaram mão de suas vidas a se conformarem com a prisão física e de pensamento. Contrapuseram-se ante as tentativas de aniquilamento de seus valores africanos e contribuíram com seus saberes para a fundação e o progresso do Brasil.
No entanto, a sociedade brasileira ainda hoje, no século XXI, é mostrada factualmente branca. Nitidamente, as linguagens da economia, da política, da cultura e do social não buscam abarcar também aos negros. Vivenciamos cotidianamente um racismo explícito, no implícito da linguagem, da comunicação e da educação.
A falsa impressão do racismo cordial deve ser desmascarada, pela análise, compreensão e, sobretudo, por novas ações do povo negro organizado. A conjuntura atual não é neutra, é formada por uma estrutura mais sofisticada, em que mais do que nunca o conhecimento está em jogo, como moeda de luta ideológica.
Com a Juventude Negra não podia ser diferente. As raízes fincadas na ancestralidade e o exercício do potencial jovem-revolucionário edificaram a pauta dessa juventude, que resiste às imposições do embranquecimento capitalista e atua nas várias frentes em defesa de uma sociedade justa, sem racismo e desigualdades de classes.
À vista disso, surgido da necessidade de maior organização e unificação universitária em torno das questões raciais, estudantes de diversos cursos da UFRJ construíram um GT (grupo de trabalho) de enfrentamento ao racismo estrutural e ao preconceito contra a juventude negra, sobretudo cotistas, agregando parte da Juventude Negra universitária na construção da semana de celebração da consciência negra.
Entendemos que a Universidade que não está aberta à diversidade e às múltiplas manifestações culturais e políticas, e que não busca eliminar os obstáculos que dificultam ou mesmo impossibilitam o acesso e a permanência de estudantes por conta da cor de sua pele ou classe social não pode ser autônoma.
Se a Universidade não é capaz de abrigar diferentes grupos ou visões de mundo, certamente que será igualmente incapaz de propiciar à sociedade um espaço de convergência em que os conflitos possam ser cientificamente compreendidos e até solucionados. Ou seja, uma Universidade que não instituiu ações afirmativas em situações, tal como a brasileira, em que a exclusão educacional de pobres, negros e indígenas é um fato incontestável, nem sequer pode ser considerada uma Universidade, pois lhe faltaria o elemento essencial que é o contato com a “universalidade”.
Convidamos a todos para a Semana de Consciência Negra que está sendo realizada desde o dia 25 e vai até 29 de novembro. Harambee! Estamos juntos