Ping Pong com Marcelinho MG

Fone, música e festa. Ele esteve no Studio RJ, no lançamento do songbook de Vinicius Terra. Marcelinho MG é quebradeiro e DJ de corpo e alma. Não deixe de conferir sua entrevista para o site da Universidade das Quebradas.

A música está no seu sangue? Como e onde tudo começou?
Ela está… Para gente ser DJ, ela tem que estar rolando. Só que ela veio até tarde, porque como eu não tinha dinheiro para comprar CD ou rádio, eu só fui ter um rádio com 18 anos. Eu só ouvia a música no baile. Eu me interessava nesse balanço, nessa ideia, e aí ela foi entrando, eu fui gostando, fui desenvolvendo, fui tentando comprar os equipamentos e estou aí até agora.
O que você sente quando é o DJ de uma festa?
Bom, tem vários tipos de DJ. Eu quando dou aula tento passar isso para o pessoal para que se entenda o que é ser DJ. Eu sempre pergunto para os meus alunos o que eles acham que é. Se parar para pensar, muitos não vão saber responder. Ser DJ é muito mais do que só colocar música. Dependendo do tipo de DJ e do tipo de trabalho, ele tem que saber mixar, ou seja, colocar uma música dentro da outra com continuidade sem quebra. Já um DJ de festa tem que agradar desde a criança até a avó, tem que tocar mais de um tipo de música para que todos tenham uma interação maior. Se você faz um show é diferente, as pessoas são mais homogêneas, tem a mesma faixa etária. Eu, por exemplo, já abri o show do Rappa e dos Racionais. Você tem que preparar o espírito das pessoas. Ser DJ é muito complicado, não é só colocar música. O DJ fica extasiado, quando vê as pessoas curtindo as músicas. Acho que ele não para nos momentos difíceis por causa desses pequenos momentos de glória. Você vê 15 mil pessoas levantando a mão ou cantando sua música, e são esse momentos que ficam.
Qual a importância de tocar na zona sul?
Só dinheiro, porque realmente é mais rentável. Mas não é tão legal, porque por incrível que pareça, o subúrbio é mais dançante. A zona sul dá mais valor à música, enquanto o subúrbio dá mais valor a diversão. Na maioria das vezes, eu toco lá na Zona Sul. Eu faço um baile na Lapa há 14 anos, chamado Fúria Hip Hop. É o meu maior projeto, na realidade. Onde eu trabalho a cultura Hip Hop. Porque Hip Hop não é música, é uma cultura. Entra o grafite, B-boy, break… Esse projeto é minha âncora.
O que significou estar no lançamento do Vinicius Terra?
É muito gratificante. Como eu já tenho 14 anos no projeto Fúria Hip Hop, eu vi o Vinicius Terra começando. Estar no lançamento é interagir com quem a gente já conhece há muito tempo. Principalmente porque é um trabalho muito importante, é um songbook, que é uma coisa nova. E que para o nosso meio é complicado, no meio do rap, do Hip Hop. O songbook é um livro que tem as letras das músicas com as cifras e as partituras. Você compra na livraria e sai tocando as músicas. Esse em especial é muito importante porque é o primeiro songbook de Rap de língua portuguesa. Porque lá fora o gringo já faz isso direto. E a galera não tem muita cultura de songbook aqui no Brasil.
Que tipo de música você toca?
Minha linha é em cima do Hip Hop e do Rap. Mas agora devido a minha pesquisa musical com vinil, que eu gosto muito, ela tem se ampliado. Tenho mais de 5 mil vinis em casa. Essa minha nova pesquisa são de vinis raros, tipo do Tim Maia, eu tenho quase a coleção toda do Jorge Ben. Eu tento agora buscar e colocar nas minhas produções coisas do Brasil, do Black de 60 e 70, como Tony bizarro e Marku Ribas. Vários artistas que são do underground brasileiro. E agora eu também tenho outro projeto. No domingo passado toquei no Parque Criativo, na abertura de dois shows de grupos alternativos. Esse novo projeto se chama Samba Rock Black Groove. Eu misturo várias vertentes da Black Music tanto nacional quanto internacional. Eu posso mixar Prince com Jorge Ben, como eu posso botar Diana Ross com Sambasonics. Ou seja, não tem um padrão. São ideias brasileiras com coisas internacionais e vice-versa. Para que a galera entenda que é música e que dá para misturar.
Quais as dificuldades de ser DJ da periferia?
Pô, todas, né? Para você ser DJ na periferia, você acaba esbarrando no funk, de ter que tocar funk. E você tocar uma coisa diferente, você ir contra a maré é complicado. Primeiro, tem que ter calma e ser profissional para poder ganhar dinheiro. Quando eu dou aula para os meus alunos, que geralmente são de periferia, a gente tenta trabalhar com o que eles podem, para que eles saibam trabalhar com o que tem e depois o estilo dele vai assumindo, tentando mudar e tentando colocar o estilo de cada um.
Qual dica você daria a um iniciante?
Persistência e acreditar no sonho sempre. Eu quando comecei não tinha nem aparelho, não tinha nada. E aí eu disse: “vou comprar”. Eu ficava sem almoçar para comprar disco. E a galera acha que é fácil. Eu trabalhava no centro, tinha uma hora de almoço. Era 5 minutos para comer um sanduíche e o resto era para ficar na loja de disco namorando o que eu queria comprar.
Qual foi a melhor experiência que teve no mundo da música?
Ah, tem várias. Por exemplo, os shows são muito legais de poder trabalhar e poder ver 15 mil pessoas pulando. Mas também teve um que foi recente, que foi até através da Universidade das Quebradas – edição Manguinhos, a montagem do projeto Fúria Hip Hop. A gente conseguiu fazer esse projeto ser aprovado pela Secretaria de Cultura e funcionar, o que foi muito legal. A partir daí o Fúria Hip Hop saiu da Lapa para ir para outros lugares, para onde eu quero, ou seja,  no subúrbio. Para ir onde o Hip Hop precisa ir.
A universidade das Quebradas influenciou seu trabalho?
Eu fui da edição Manguinhos e continuei aqui por que quero mais conhecimento. Na realidade a Universidade das Quebradas me transformou nessa parte, agora posso colocar minha arte de outro modo, posso conseguir outro caminho. Não está dando certo de um lado? A gente trabalha outro para que possa ir se encaixando para que seu sonho se torne realidade.

A Universidade das Quebradas tem o imenso prazer de conversar com Marcelinho MG. Parabéns pelo trabalho!

Não deixe de conferir suas produções aqui. Marcelinho MG se apresenta toda sexta-feira na FEBARJ, na Lapa. A casa fica na avenida Mem de Sá, 37.

 

Por Mariana Mauro (Bolsista PIBEX – ECO/UFRJ)