Silvia Soter promoveu uma verdadeira mudança nas percepções quebradeiras ao mostrar a dança de forma inusitada aos que acreditavam que dançar é necessariamente fazer movimento.
Ela nos mostrou, através da obra de Jérôme Bel, que não só é possível, mas pode ser inovador e esteticamente interessante o uso da paragem. A paragem está para a dança como o silêncio está para a música. Como já disse Milton Nascimento na música Certas Coisas, “não existiria som se não houvesse o silêncio”.
Aliás, música e dança foi justamente a discussão que abriu a aula. Silvia nos mostrou que música e dança, apesar de conviverem muito bem, de forma integrada, podem ser autônomas, sem que isso as prejudique. Na década de 50, o coreógrafo Merce Cunningham e o compositor John Cage foram os responsáveis por essa mudança na relação entre som e movimento.
Ao caracterizar a dança brasileira, Silvia pontuou que não é possível caracterizá-la por um estilo único, justamente pela pluralidade, tão marcante na nossa cultura. O que, ao mesmo tempo, enriquece e dificulta a recepção do público e a análise da crítica, pois ambas são realizadas de acordo com o repertório individual do sujeito formado por suas vivências e gostos pessoais, daí a necessidade de se relativizar as críticas segundo Silvia.
Destaque também para a dificuldade de manutenção das companhias de dança nacionais, pois os editais de produção são muito mais numerosos que os de manutenção, o que causa uma grande exportação de talentos e espetáculos, além da dificuldade de formação de novos bailarinos que possam ter a dança como profissão e viver dignamente dela.
Apesar destas dificuldades, é importante ressaltar uma grande conquista: a Formação Superior em Dança, que promoveu uma mudança no mercado. Para Silvia, “A dança deveria estar presente na Escola e ensinada pelo professor que fez uma licenciatura em dança, mas essa não é ainda a realidade do Brasil”. O que leva a uma nova relação entre o saber fazer e o ensinar, com a necessidade do conhecimento pedagógico.
Ao fim da aula, foram exibidos vídeos de dança de diversos estilos, desde o ballet clássico O Lago dos Cisnes, até o contemporâneo Jérôme Bel que, num exercício de leitura, nos fez perceber que a dança não é apenas o movimento do corpo, mas da emoção.
Texto: Joana D’arc Liberato
Foto: “Ballet dancers” por keepwaddling1 – CC BY 2.0