Começou a Universidade das Quebradas! Assim Heloisa Buarque de Holanda iniciou os trabalhos do dia 25 de setembro, abrindo o 1o Território das Quebradas de 2012 – Estética da Periferia: Filosofia e Arte.
Tendo como mediadora a quebradeira Jussara Santos, a mesa começou as apresentações com Rute Casoy, que falou sobre seu encontro e admiração pela a cultura indígena. Contando sobre sua trajetória, a quebradeira descreveu o fascínio que os objetos indígenas tiveram em sua infância, contou a respeito dos estudos sobre o Pensamento Mítico, na França, nos anos 70, e o contato com um griots africano que lhe ensinou uma lição importante: O objetivo da vida é o encontro. Na década de 1990, Rute conheceu a cultura Sufi, o que reafirmou para ela a importância da oralidade, e a partir daí, se tornou uma contadora de histórias. Mais tarde Rute dedicou-se ao projeto “Poranduba, roda de estórias indígenas”, que consistiu em um grande levantamento de histórias contadas nas diversas culturas indígenas brasileiras e seleção de 28 mitos para serem publicados num livro acompanhado de CDs. Rute contou também sobre encontros com os autores indígenas como Daniel Munduruku e Kaká Werá entre outros, que gravaram depoimentos e histórias para o projeto. Para encerrar a quebradeira avisou: Que se aproximar da cultura indígena é fascinante e perigoso!
A segunda apresentação foi de Nelson Crisóstemo, que começou seu trabalho como animador cultural no projeto dos CIEPs, para onde levou seu conhecimento e tecnologia de sobrevivência com tingimento e reciclagem de tecido. Depois ele nos contou sobre o trabalho de pesquisa dos remanescentes de São João Marcos do Prince, uma vila quilombola que foi tombada em 1938 e destombada em 1940 por ocasião da construção de uma represa e do trabalho de resgate cultural ocorrido com duas famílias na cidade de Lídice e documentado pela TV zumbi. Esta experiência comprova que “um povo sem memória é um povo em extinção”. Nelson nos apresentou também um trabalho que realiza com moda, no qual associa valores éticos e economia de resíduos, ele mostra que a Moda é o nosso jeito de mudar o mundo.
A terceira apresentação foi de Clarice Azul, que começou a frenquentar a Universidade das Quebradas em 2011, muito timidamente, este ano resolveu se colocar. Ela mostrou seus desenhos e pinturas, expôs sua fragilidade, falando de tremores e das pessoas que ela retrata antes de conhecer; suas mulheres invisíveis. A artista que é também bailarina se definiu como uma fazendeira de coisas.
Depois foi a vez de Pablo Ramoz, que iniciou sua apresentação falando da importância patrimonial do bairro de Santa Cruz, o mais antigo do Rio de Janeiro. Falou sobre fase jesuítica, a fazenda real e Imperial, mostrou o hangar de zepellin e a fonte Wallace. Pablo empolgou a plateia quando apresentou o projeto do Eco Museu de Santa Cruz fundado em 1992. Explicou que o “Eco” não se refere a ecologia como muitos pensam mas na ninfa grega Eco, que adorava sua própria voz. O eco museu quer dar voz as pessoas que fazem parte dele e trabalha especialmente com o patrimônio Imaterial, teatro, música, festejos locais, culinária, em especial a cultura de aipim e a memória oral. Para encerrar Pablo apresentou o projeto do Museu de Rua, que promove o chá de rua, uma atividade participativa que se propõe aos próprios moradores dos bairros a construção da memória coletiva.
Para encerrar tivemos a apresentação de João Griots, que participa de um grupo, que promove uma série de intervenções na baixada fluminense; o coletivo Grito do silêncio. O grupo realizou o ato público “Luto pelo coreto”, em favor da preservação do patrimônio histórico de São João de Meriti e um documentário com a família que organiza a Folia de Reis na cidade, entre outros. O objetivo destas ações é a valorização da cultura local. Para encerrar João Griots apresentou o símbolo Adinkra que representa a transformação da vida, Sesa wo Suban: representa a dinâmica da vida, entre a influência dos fenômenos da natureza e os provocados pelo homem, entre o destino e o livre-arbítrio.
Depois do debate tivemos um sarau incrível, com contação de história, poesias, números de dança, performances de circo e até uma pintura de tecido ao vivo! Para experimentar um pouco desta emoção, melhor ver o video da performance Chá para Clarice Lispector