Por Lindiamara Oliveira Gama – Bolsista PIBEX (PACC-UFRJ)
A última aula da UQ foi uma despedida muito produtiva e descontraída com Eucanaã Ferraz, poeta e professor de Literatura Brasileira na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, desde 2010, atua como consultor de literatura do Instituto Moreira Salles, onde elabora publicações, exposições, debates, cursos e espetáculos.
A aula tratou de questões referentes à poesia moderna e sua relação com a cidade, bem como o desejo de negação dos princípios da poesia tradicional para fundar uma linguagem nova, longe dos velhos padrões, para constituir-se numa poesia que se quer antipoética ou não poética, nas palavras do professor.
A preocupação do Eucanaã é na atenção que recai sobretudo na ideia de que a liberdade, é a palavra-chave para compreender a poesia e, em sentido amplo, a própria arte moderna. E para isso, foram escolhidos quatro poemas: “A realidade e a imagem” e “Poema tirado de uma notícia de jornal”, de Manuel Bandeira; “No meio do caminho”, de Carlos Drummond de Andrade; e “O engenheiro”, de João Cabral de Melo Neto.
Nas obras acima citadas, percebemos em comum entre elas a ausência do lirismo; vimos a capacidade criadora do antilirismo, ou seja, não há um sujeito, não há camada de sentimento. Trata-se de poemas totalmente narrativos, visuais, sintéticos curtos, descritivos e concretos; estão fora da expectativa lírica e apresentam certa sutileza com descrições muito objetivas.
Eucanaã Ferraz nos fala que a poesia não precisa ser “quente”, afetiva, emocional, mas fria, imparcial em um processo construtivo e reflexivo. Na arte moderna, essas formas de construção são chamadas de poemas antipoéticos, pois não há neles nada de poético no sentido convencional; há sim mais uma linguagem reflexiva que vem da linhagem da era moderna, tais como o cubismo, o dadaísmo.
O curioso é que é o leitor precisa exercer em sua atividade de leitura certa manipulação da matéria poética, um trabalho efetivo com os versos, pois só assim a compreensão e a interpretação da poesia moderna se oferecem ao leitor como uma espécie de “rearranjo” de significados, contribuindo também dessa forma para desmontar os mitos que giram em torno dos poetas e da sua atividade criadora.
Esse é o caso dos poemas selecionados de Drummond, Bandeira e Cabral de Melo Neto. Em outras palavras, cada um deles desmonta a poesia a seu modo, constituindo momentos em que suas poéticas contrariaram a concepção tradicional de poesia, consolidando-os como poetas-chaves no quadro da poesia moderna do Brasil.