Por Georgina Martins
As tensões políticas, sociais e culturais que envolvem a temática margem/cânone foi o tema da aula do professor e pesquisador da Faculdade de Letras da UFRJ, João Camillo Pena, cuja principal reflexão parte da oposição entre meritocracia e justiça social.
Entendendo o cânone como um conjunto de regras, ou seja, como um modelo a ser seguido, e margem como aquilo que se opõe ao centro e, consequentemente, se constitui como periférico, João Camillo destacou a importância do desenvolvimento de um outro olhar da Universidade para as produções literárias que ousam “bagunçar” a concepção clássica do que pode e deve ser encarado como literário, belo e sublime. Para ele, é de extrema importância que nos façamos sempre as perguntas: O que é literatura? O que deve ser considerado como tal e o que não deve? Uma vez que não existe uma essência literária nas palavras, qualquer frase pode ser literária, e para isso, ela só depende do contexto em que é empregada.
O pesquisador destacou ainda alguns autores considerados marginais, como Ferrez, Sacolinha, Alam da Rosa e Sergio Vaz, que optam por fazer da literatura um instrumento de luta e testemunho — testemunha é quem depõe sobre o que viu. Autores que precisam ser lidos pela academia, sobretudo porque pautam uma nova discussão sobre temas como racismo, gênero, violência e pobreza. Leituras que contribuem, por exemplo, para que as marcas racistas da literatura de Monteiro Lobato não sejam ignoradas.