Por Felipe Boaventura e Georgina Martins
Leonardo Castilho é educador do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) há sete anos. Ele é surdo de nascença e desde criança convive com ouvintes e surdos; por isso, segundo ele, sabe ler e escrever em português, apesar de sua primeira língua ser a Libras — Língua Brasileira de Sinais.
Para nós, ouvintes, a aula começou de forma inusitada, pois enquanto Leonardo se expressava na Língua de Sinais, dois intérpretes se revezam na tradução simultânea. A pequena estranheza do início deu lugar a uma atenção interessada e participativa dos Quebradeiros, ao mesmo tempo encantados com a explanação dos conteúdos e a forma expressiva de Leonardo se comunicar em sua língua materna.
Leonardo começou se apresentando em Libras, o que significa mostrar o sinal que o representa, e perguntou se alguém da turma já possuía um sinal. Ele também quis saber se ali havia pessoas que já haviam tido contatos com surdos, e apenas três Quebradeiros disseram que sim.
Ele expôs sua opinião sobre as recentes melhorias na qualidade de vida dos surdos trazidas pela implementação da lei que instituiu a obrigatoriedade do ensino de Libras no Brasil. Destacou ainda que antigamente o surdo era visto como uma pessoa doente e incapaz, tratada na maioria dos casos em manicômios, proibida de aprender a Língua de Sinais.
Em função da necessidade de se promover o acesso integral ao acervo, bem como às exposições do museu, o MAM/ SP percebeu que precisava viabilizar o acesso a todas as pessoas surdas, e por isso encarregou-se da formação de educadores surdos, para que estes pudessem atuar como agentes facilitadores dos grupos com essas características. Hoje o museu forma educadores para outros museus de São Paulo.
Leonardo também mostrou ações feitas pelo museu, como, por exemplo, o Setembro Azul e a festa Sencity (https://www.youtube.com/watch?v=LEQkXGvK7Y0), esta última, oriunda de Rotterdam, Holanda, possui música com intérprete, chão que vibra em função da música, cheiros capazes de induzir à percepção do que está sendo tocado, além de outras facilidades que permitem o acesso e a interação dos sujeitos surdos. Leonardo mostrou o projeto Corposinalizante, seus filmes e campanhas como a “Legenda de Libras para surdos em Filmes Nacionais”, uma reivindicação antiga, mas até agora sem resposta concreta. Hoje, a maioria dos surdos não conseguem ler as legendas em Português e por isso não tem como assistir os filmes, uma vez que a Língua portuguesa não se configura como primeira língua do sujeito surdo.
Os quebradeiros participaram ativamente da aula, ora com depoimentos pessoais, ora teorizando sobre as possíveis formas de acesso por parte dos surdos a todos os bens culturais produzidos.
Depois da aula houve visitação à exposição “Paisagens não vistas” do MAR.